Já aqui mesmo tinha alertado para a necessidade de conter a autêntica “bomba-relógio” que se configurava e continua a configurar no horizonte, associada ao final do prazo para as moratórias de crédito concedidas pelos bancos às famílias e às empresas.
Agora, regresso ao tema na sequência das declarações desta semana do presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Paulo Macedo, que numa conferência recente falou não de uma bomba-relógio, mas de um tsunami.
De acordo com Paulo Macedo, que participou no webinar “Investimento, Digitalização e Financiamento Verde: O Caso Português”, organizado pelo Banco de Portugal (BdP) e pelo Banco Europeu de Investimento (BEI), “em Portugal, com o fim das moratórias, temos de nos assegurar que as empresas certas são apoiadas para não ter um ‘tsunami’ de NPL” (non performing loans ou, mais correntemente, crédito malparado]”. O presidente da CGD destacou em especial a situação de sectores como o do turismo e agências de viagens, mas também as áreas culturais e a educação.
Obviamente que este problema é assimétrico e é necessário percebermos que teremos de auxiliar os diferentes sectores de diferentes maneiras.
O recente “Inquérito Rápido e Excecional às Empresas – COVID-19”, respeitante a fevereiro de 2021 e da autoria das economistas do Banco de Portugal, Ana Sequeira e Cristina Manteu, demonstra bem essa assimetria. O otimismo transmitido pelas empresas em sectores como o da construção e imobiliário, ou da informação e comunicação, contrasta bem com o pessimismo revelado pelos empresários no comércio, no sector dos transportes e armazenagem e, evidentemente, no alojamento e restauração.
Como salientam as economistas: “O alojamento e restauração destaca-se por apresentar a menor percentagem de empresas que já voltou ao normal e a maior proporção de empresas que espera ficar permanentemente abaixo do nível pré-pandemia. Nos transportes e armazenagem, no comércio e no alojamento e restauração sobressai também a percentagem de empresas que não sabem se recuperarão ou não o nível normal, o que poderá refletir a incerteza quanto à evolução da pandemia e efeitos nas práticas e preferências dos agentes económicos”.
Não é difícil antecipar o que vai acontecer, como aliás o fez Paulo Macedo. Importante, no entanto, é definir com exatidão que procedimentos seguir e com que critérios diferenciadores. Como escreveu Mario Monti esta semana no “Financial Times”, é indispensável uma agenda ambiciosa para o “normal” pós-pandemia. Que passe por mudanças, algumas delas profundas, inclusivamente na estrutura do sistema financeiro global. Se essa mudança não for agora, então muito dificilmente alguma vez o será.
Boa iniciativa a das 21 personalidades de diversas áreas que se associaram para a defesa e promoção da “Marca Portugal”. Carlos Coelho, o porta-voz do grupo e presidente da Ivity, fala mesmo em sermos no espaço de uma década uma das 10 marcas mais importantes do mundo. É bom haver esta vontade e ambição por parte dos nossos empresários.
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