O Governo continua a dar sinais de cansaço e de perda de objetividade, como se tivesse sido contaminado por um vírus de irresponsabilidade e de inimputabilidade política. Justificado pela presidência europeia portuguesa, o maior Governo de sempre corre o risco de se tornar num embaraço coletivo arrastando a política do executivo para o vazio.

Sucedem-se casos que atingem ministros de pastas estruturais e que ameaçam juntar-se aos que constituem inexistências políticas desde o início deste mandato. Estes membros do Governo mantêm-nos numa espera angustiante para que surjam publicamente, num rasgo, pois têm-se limitado a ocupar um mero lugar na orgânica governamental. Serão candidatos à remodelação pós-presidência europeia, imediatamente antes das eleições autárquicas para dar novo fôlego a António Costa ou para preparar o novo orçamento, se não houver uma crise na preparação deste.

Os casos que afetam a ministra da Justiça e o ministro da Administração Interna, as divergências do primeiro-ministro com o ministro das Infraestruturas, a obstinada discrição das ministras da Agricultura e da Coesão e o desaparecimento do ministro do Planeamento (e dos fundos europeus) descaracterizam e diminuem a função ministerial e tornam urgente repor dimensão, capacidade e responsabilidade no topo da escala das funções de Estado. Obviamente que os respetivos secretários de Estado mais discretos se tornam e maiores sombras lançam sobre a sua sustentação no Executivo.

Mais de metade dos membros do Governo parecem assim ter entrado num comprido túnel obscuro que não nos permite vê-los apesar de sabermos que existem. Em todo o percurso presumimos que avançam e evoluem, mas, no fim, a luz que alcançam corresponderá à libertação, dada a escuridão em que permanecem durante todo o mandato. Sem contaminar a imagem do Portugal europeu em momento crucial como o presente, no final deste semestre urgirá abrir a porta para devolver ao país a imagem de que o Executivo dispõe de uma estratégia de desenvolvimento de benefício geral e não apenas de um conjunto de políticas exauridas.

O caso da ministra da Justiça assume uma dimensão gravíssima. Não política mas de carácter. Gralhas e lapsos constituem sucessivas desculpas, com um Diretor Geral a servir de bode expiatório, tal como a Diretora do SEF teve de assumir a respetiva responsabilidade, a custo, a conta-gotas e apenas quando a situação se tornou insustentável. Em caso algum houve a humildade de assumir a dimensão política com as respetivas consequências do caso que mancha a respeitabilidade do Estado Português, interna e além-fronteiras.

Em todos os casos o primeiro-ministro António Costa teve de renovar a confiança. Contudo, o que se perdeu foi a credibilidade da ministra e do ministro, por ação indevida ou ação não praticada. Assim vamos, de ministros inexistentes a ministros imprevidentes, até chegarmos a metade do Governo. Aí chegados, este cairá por falta de quórum de credibilidade ou por falta de infraestruturas… humanas.