A 26ª conferência das Nações Unidas acerca das Alterações Climáticas (COP26) teve início a 31 de outubro. No momento em que este artigo está a ser escrito as perspetivas acerca do sucesso desta iniciativa não parecem ser muito animadoras. Independentemente do sucesso global, subsistirão sempre iniciativas relevantes.

Integrada nos trabalhos da conferência será oficialmente lançada a Declaração de Glasgow para a ação climática no turismo. A declaração está disponível online e pode já ser subscrita pelas entidades que assim o entendam.

A adesão é voluntária, não onerosa e apenas obriga as entidades signatárias: ao apoio ao compromisso global de reduzir as emissões pela metade até 2030; a elaborar e entregar planos de ação climática nos 12 meses após a adesão; a alinhar esses planos com as cinco dimensões operacionais da Declaração (medir, descarbonizar, regenerar, colaborar, financiar); a relatar publicamente, todos os anos, o progresso na execução do plano e as ações implementadas; e ao trabalho colaborativo, na compartilha de boas práticas e soluções e na disseminação de informações para encorajar outras organizações para se tornarem signatárias.

O Turismo tem sido uma atividade com um forte impacto no clima, sendo responsável por aproximadamente de 8% das emissões globais de gases de efeito estufa (estudo de Lenzen e outros, publicado na “Nature Climate Change” em 2018). Os transportes, as compras e a alimentação contribuem significativamente para essas emissões.

Se se considerar que no período estudado (2009-2013) o turismo representava 7% do PIB, facilmente se conclui que o impacto ambiental do turismo, na dimensão considerada, é maior do que a sua participação para o produto criado.

Esta iniciativa que agora se está a iniciar não é inédita no setor, antes pelo contrário, há algumas décadas que a questão da sustentabilidade se estabeleceu como uma prioridade do turismo, quer em Portugal quer internacionalmente. São disso exemplo o Plano Turismo + Sustentável 20-23 cuja versão final foi apresentada em junho passado pelo Turismo de Portugal; a rede de observatórios de turismo sustentável da Organização Mundial do Turismo e que integra observatórios de várias regiões nacionais (os Açores, o Algarve e o Alentejo); sejam outras iniciativas associadas às Nações Unidas como é o caso da rede One Planet network que promove a declaração de Glasgow.

Os agentes económicos, quer individualmente quer através das suas associações representativas, têm também dado importantes contributos. Finalmente, começa a acumular-se evidência de maiores preocupações ambientais por parte dos próprios turistas.

Mas então por que razão é importante esta iniciativa para um setor marcado por uma multiplicidade de outras iniciativas? Há pelo menos três razões que justificam mais esta iniciativa.

Em primeiro lugar, porque a urgência climática não se tornou menos dramática nos últimos anos. A pandemia veio criar algum alívio, mas sabe-se (espera-se!) que ele seja apenas transitório. O cenário mais provável é que o retomar da atividade normal conduza a níveis de atividade turística similares aos anteriores à pandemia. É provável que se observem flutuações nos diversos turismos (diminuição do turismo de negócios, aumento do turismo da saúde e do turismo do lazer), mas globalmente não são antecipáveis quebras com significado.

Em segundo lugar, o que se pretende com esta iniciativa é criar uma grande dinâmica nos agentes ligados ao turismo, sejam eles quem forem, que adiram e se envolvam individualmente nesta dinâmica, mobilizando-se internamente e mostrando essa sua mobilização e vontade para o exterior, partilhando a sua experiência.

Uma terceira razão prende-se com o potencial que este tipo de iniciativas tem para gerar dinâmicas internas às organizações que conduzam aos objetivos esperados, uma maior sustentabilidade das operações turísticas.

A resolução do problema das alterações climáticas vai exigir aos agentes do setor do turismo importantes alterações dos seus comportamentos e isso será mais fácil se existirem elementos catalisadores externos, e a adesão à Declaração de Glasgow pode ter esse efeito catalisador, potenciando dinâmicas internas nesses agentes que alterem comportamentos e desencadeiem evoluções no sentido da sustentabilidade.

Será importante, e significativo, se os agentes do setor do turismo em Portugal se mobilizarem no sentido de aderirem à Declaração de Glasgow. Serão, seguramente, passos no sentido de um desenvolvimento mais sustentável – do setor e do país.