Foi publicada recentemente, a 5 de maio, a Comunicação da Comissão Europeia que revê a Nova Estratégia Industrial para a Europa que havia sido apresentada em março de 2020. A revisão tem em conta o impacto da pandemia Covid-19, e as debilidades que esta revelou, e também as medidas de recuperação entretanto estabelecidas ou que se prevê que venham a ser implementadas.

Esta Comunicação da Comissão Europeia é, assim, um documento que deve ser analisado com a devida atenção enquanto se prepara a implementação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Desta revisão destaca-se: a análise ao mercado interno a partir do conceito de ecossistema industrial atribuindo-lhe uma dimensão setorial não tão evidente na sua versão inicial. Este aspeto é tanto mais importante quanto se observa, e assume, que os efeitos da pandemia foram, profundamente assimétricos, com sectores particularmente atingidos, designadamente o turismo.

Um segundo aspeto que convém igualmente realçar refere-se à questão das competências. Também aqui se observam evoluções relativamente ao documento de 2020. A comunicação original refere abundantemente a questão das competências, defendendo o estabelecimento de um Pacto para as mesmas e a atualização da Agenda de Competências para a Europa.

Parte deste caminho já foi feito, designadamente os desenvolvimentos do âmbito do referido Pacto para as Competências, em concreto, as mesas redondas realizadas no final do ano passado e que estabeleceram já linhas de orientação para diversos setores, nomeadamente para o turismo.

Das conclusões e medidas propostas pela mesa redonda do turismo salientam-se as seguintes:

  1. Incentivar uma cooperação mais estreita entre empresas e instituições educacionais para definir currículos e programas de aprendizagem em conjunto; alinhando o conteúdo educacional e previsão de evolução do setor;
  2. As estratégias de competências em turismo devem fazer parte dos planos nacionais de recuperação;
  3. O financiamento poderá ir para programas de formação de associações nacionais, porque eles chegam às empresas no terreno, especialmente às PME;
  4. Colaboração entre a indústria, sindicatos, agências de emprego para definir esquemas de retenção de emprego que garantam a melhoria contínua de competências;
  5. A importância de mudar os comportamentos das/nas empresas. Os fundos para as empresas devem vir com condicionantes de modo a as envolver no esforço de disponibilizar aos funcionários formação regular e contínua e certificação;
  6. A questão do emprego e da formação é complexa e depende da colaboração de vários atores; muito do sucesso está na liderança de grupos de trabalho/parcerias; para isso devem ser alocados recursos humanos, técnicos e financeiros.

O turismo nacional tem feito um percurso significativo de modernização, inovação e reforço da competitividade, nos últimos anos, com sucessivos prémios e reconhecimentos e ganhos de quota de mercado, mas também com posições de muito relevo e significado nos rankings internacionais do setor, como por exemplo The Travel & Tourism Competitiveness Report do World Economic Forum.

Esse esforço de inovação gerou um ecossistema – que é muito mais do que as empresas, os empresários e os trabalhadores, e que envolve também a academia e as escolas de ensino vocacional, o movimento associativo e as entidades públicas – no qual a colaboração e as parcerias têm sido um elemento determinante para alcançar os êxitos referidos.

Neste contexto, a notícia recente da constituição de um Laboratório colaborativo – o KIPt, Knowledge to Innovate Professions in Tourism – vocacionado, especificamente, para as competências, a inovação e o empreendedorismo no turismo, não pode deixar de ser saudada.

Assente numa lógica de parceria, como é apanágio dos laboratórios colaborativos, e envolvendo um grupo muito alargado e diverso de entidades – importantes grupos hoteleiros, empresas, administração pública e associação empresarial com impacto na criação de valor turístico, bem como um conjunto alargado de instituições académicas – e com uma assinalável cobertura geográfica, o KIPt pode ser instrumento relevante para a concretização das medidas identificadas pela mesa redonda do “Pacto das competências” do turismo.

Nota: este texto foi escrito em coautoria com Pedro Sebastião, docente do ISCTE-IUL.