Ao longo deste último ano em que tenho escrito regularmente nas páginas do Jornal Económico, regra geral, tenho evitado escrever de forma directa sobre a instituição cujos destinos tenho tido  desde Dezembro de 2015 o privilégio de orientar. Permitam-me, no entanto, que abra hoje uma excepção, que aliás e em todo o caso partirá do concreto para uma ilação geral.

Vamos aos factos. Muito recentemente, o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos (SNQTB), instituição que lidero e no âmbito da qual tenho tido o privilégio de trabalhar com um grupo absolutamente exemplar de profissionais, liquidou a última tranche da sua dívida financeira à Caixa Geral de Depósitos.

Para nós, ficará como um dia marcante na nossa história recente. Importa recordar, se me permitem, que quando os actuais órgãos sociais do SNQTB tomaram posse, em Dezembro de 2015, a dívida financeira da instituição era superior a 11 milhões de euros.

Os últimos três anos não foram fáceis. Todos conhecemos o ciclo em que mergulhou a banca portuguesa a partir de 2011, com todas as convulsões que se fizeram sentir, bancos que deixaram de existir, reconfigurações accionistas profundas e muitos bancários a perder os seus postos de trabalho. Não me canso de repetir. Os bancários foram os que menos tiveram culpa no que sucedeu, mas foram eles quem pagou a fatia maior da factura.

Com este panorama de fundo, menos bancários, um sector em crise e mutação, o SNQTB conseguiu não apenas contrariar a tendência e crescer em termos de número de associados, mas também arrumar a sua própria casa, voltando a trilhar um rumo de sustentabilidade.

Permitam-me a aparente falta de modéstia, mas tenho muito orgulho na minha equipa e nas pessoas que comigo lideraram este duro processo. Com rigor e com uma gestão prudente, entre 2018 e 2019, o SNQTB amortizou antecipadamente cerca de sete milhões de euros, com isso poupando em juros mais de 400 mil euros, verba que foi integralmente devolvida aos sócios, através de aumentos nas comparticipações das suas despesas de saúde.

Actualmente, há operadores de saúde que são notícia por causa das suas dívidas que se arrastam anos a fio. Da nossa parte, o SAMS Quadros, subsistema de saúde do SNQTB, paga aos fornecedores dentro dos prazos contratados, geralmente abaixo dos 60 dias.

Nada disto, naturalmente, resulta de um capricho da nossa parte. A sustentabilidade é uma condição prévia para a sobrevivência de qualquer instituição, sindical, patronal, ou qualquer outra.

Uma instituição mergulhada numa rota de insustentabilidade, dependente de terceiros, fruto da sua condição financeira (ou de outra), não serve inteiramente o seu propósito. Por isso, a sua independência, política, económica, financeira, é tão importante.

Só um sindicato livre está na posse dos seus plenos poderes para fazer escolhas livres e para defender livremente os trabalhadores que representa. É esta a verdadeira importância do pagamento da última tranche da nossa dívida financeira. Mais do que nunca, somos um sindicato de bancários e cidadãos livres, independentemente das convicções pessoais de cada um. Poderia existir melhor forma de começar o ano?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.