Não existem palavras suficientes para encher o enorme vazio que se gerou em todos nós esta semana. Não existem palavras para descrever o que se viveu em Portugal, o que se sente nas ruas, nos olhares, nas redes sociais –  malditas redes sociais –, mas sobretudo cá dentro, de cada um de nós. Fiquei sem palavras e fiquei com tudo o que me pertence: a casa, o carro, os bens, as pessoas… Como estarão os que ficaram sem nada? Não há palavras. E foram tantos.

Esta semana não nos valeu Madonna nem Ronaldo. De nada nos vale sermos um país tão bonito, tão seguro, com um povo tão simpático, tão ‘cantinho’ da Europa, se depois somos o terceiro mundo em 24 horas. E pela segunda vez.

Sim, é verdade que haverá cada vez mais catástrofes, cada vez mais tragédias, porque existe aquecimento global, cheias, mudanças climáticas, etc. Mas não pode ser verdade que temos de nos habituar a elas e muito menos aceitar que aconteçam porque não conseguimos aprender com os erros e melhorar, mesmo quando ainda estão quentes.

Antes de sermos bons para quem nos visita temos de ser bons com os nossos. Não vale a pena tratarmos bem os convidados se não tratamos bem a família que vive em nossa casa. E essa mensagem passa. Não vale a pena investirmos no turismo se não conseguimos retirar o turista de um fogo no meio daquele hotel tão lindo ali no pinhal. Porque também não conseguimos fazê-lo com os filhos da terra. Não vale a pena mostrar que somos capazes de bem receber quando a vida de quem nos visita pode estar em perigo mal se põe um pé fora de Lisboa ou Porto e o termómetro marca mais de 30ºC. Não vale a pena fingir que o que aconteceu não é grave para Portugal, para a nossa visão de dentro e de fora.

O que aconteceu esta semana mancha aquela marca Portugal que se anda a construir e a vender lá fora. Mancha os nossos cartões de visita que por muitos anos passam a ter uma vista de perder o fôlego… de terra queimada. Mas mancha sobretudo a alma do nosso povo, o que Portugal tem de melhor, e a melhor marca que deixamos em quem se apaixona por este país.

Esta foi uma semana de perdas, e foram mais de 100, mais de 1.000, mais de 10.000. Perdemos muito mais do que aquilo que podemos contar. Perdemos um bocado de nós e do nosso país. E agora?

Fazemos como sempre. Lutamos. Reconstruímos. Olhamos em frente. Choramos os mortos e abraçamos os vivos. Fazemos como fizemos há quatro meses. Agora é tempo de voltar a mostrar de que massa somos feitos, uma vez mais. E não vamos falhar. Porque nunca falhámos nessa tarefa. Somos proativos. Agora vamos continuar a ser portugueses e receber de braços abertos quem nos queira visitar, mesmo com  as nossas feridas e o cheiro a queimado, mas não nos peçam para voltar a acreditar tão cedo. Não nos peçam para sermos de novo inocentes.

A reputação demora anos a construir e minutos a destruir. Qualquer marca sabe isso. Os governos não, sejam de que cor forem. E quem fica mal na fotografia? Todos nós, marca lusitana. Vamos levantar-nos e voltar a andar, mas não nos voltem a deitar ao chão desta maneira, e quando outras catástrofes ocorrerem porque não estiveram lá para nós, peçam desculpa.