É difícil criticar o desempenho económico do actual Governo, com quase todos os principais indicadores a verde (a excepção é a dívida pública) e o optimismo de regresso, depois de seis anos de obsessão com uma austeridade que dizimou sectores de actividade inteiros e levou muita gente a emigrar por falta de oportunidades e emprego.

Mas a verdade é que o caminho até aqui era fácil ou, pelo menos, mais fácil, e que o verdadeiro desafio começa agora. Um desafio que se prolonga até ao fim da legislatura.

A Economia é uma ciência muito mais rigorosa do que a maioria das pessoas pensa e tem na matemática e na estatística as suas principais ferramentas de análise. A maioria dos indicadores económicos são variações médias ou homólogas, comparando os dados mais recentes com os registos de períodos anteriores. E as estimativas e projecções para o futuro têm como base as séries de registos históricos.

Dito isto, fica claro como seria fácil a qualquer governo mostrar bons resultados neste período pós-troika. A base de partida era tão má, o estado do país tão lastimável, o desemprego tão alto, o défice e a dívida tão elevados, que melhorar era fácil. No caso do défice e da dívida, avaliados em percentagem do PIB, bastava o aumento do numerador para que o resultado se visse. Matemática pura.

Com a ajuda da retoma da economia europeia e de uma política monetária do Banco Central Europeu mais favorável, os resultados apareceram quase automaticamente. Com pouco mérito interno. A gestão das expectativas ajudou, com troca do discurso catastrofista e negativo da era da troika, por um tom de optimismo. Tudo somado, foi só cavalgar a onda e apresentar resultados.

O problema são os próximos 18 meses. O crescimento da economia não vai ser tão forte como até agora, até porque seria difícil manter o ritmo próprio de quem está a recuperar de uma depressão tão profunda. Continuará a haver melhorias, mas elas serão menos evidentes. A recuperação, a partir deste momento, será mais lenta.

Acresce que com o aproximar das eleições, os parceiros não formais do Governo (BE e PCP), quererão distanciar-se do poder, reclamar mais conquistas como suas, exigir maiores favores do Estado para as suas clientelas. E o Governo terá de pagar a fatura, com impacto negativo no Orçamento do Estado.

À margem de tudo isto, o assalto dos sindicatos à Autoeuropa, a maior fábrica do país, pode arrefecer o efeito de um mega-investimento num sector que, directa e indirectamente, vale 1,5% do PIB e 10% das exportações nacionais. As cedências feitas em Palmela terão um efeito bola de neve sobre outras empresas e sectores, criando um clima de agitação laboral indesejável para quem pretende investir.

Tudo será mais complicado e difícil a partir de agora. Resta esperar para ver se o Governo continuará na crista da onda.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.