A Moody’s cortou o rating e o outlook da dívida soberana chinesa pela primeira vez em mais de 25 anos. A agência apontou para o abrandamento da economia como o principal fator a justificar a decisão, antecipando que o PIB da China cresça a uma média de 5% por ano nos próximos cinco anos, face ao atual ritmo de 6,7%.
O foco está na dívida. O montante que agrega dívida dos particulares, das empresas não financeiras e do estado estava, no final de 2016, acima dos 250% do PIB. Parece alto, mas o montante em si não é o importante. Os EUA e a zona euro também têm endividamentos acima dos 250% e o Japão perto dos 400%. O PIB da China cresce atualmente acima dos 6%, enquanto as outras regiões têm expansões de 3%, se lá chegarem. Numa visão simples, a dívida chinesa até pode parecer mais sustentável que as das outras regiões.
O problema do endividamento chinês não é o nível, mas sim a dinâmica. No que toca ao ritmo de endividamento, os números falam por si. Em 2009, o nível de endividamento era cerca de 150% do PIB. Em sete anos, a economia chinesa endividou-se num montante equivalente ao PIB total do país em 2016.
Tendo em conta que a economia cresceu um ritmo médio de pouco mais de 8% nesse período, podemos concluir que o endividamento não tem sido usado de maneira produtiva ou geradora de riqueza. Fosse esse o caso, o PIB teria crescido acima do endividamento e isso leva-nos ao segundo ponto: a direção que tem sido dada ao endividamento Chinês.
A dívida tem sido aplicada maioritariamente em imobiliário, infra-estruturas e refinanciamento de indústrias com excesso de capacidade. Os primeiros dois são úteis em certos casos e geram muito crescimento no curto-prazo, mas depois de serem construídos só geram externalidades. Não são geradores diretos de riqueza. As primeiras estradas a ser construídas em determinadas zonas são geralmente muito úteis, abrindo a possibilidade de tráfego de comércio e trabalhadores, que se traduz em maior produtividade e crescimento económico. Mas estradas em excesso não são mais que um custo. Com o imobiliário a lógica é parecida.
Dito isto, quando é que esta dinâmica de endividamento demasiado rápido e não-produtivo se vai traduzir num abrandamento económico a sério? A resposta está na análise da fonte de financiamento, que parece ter bolsos fundos e bastante opacos.
Além disso, o governo chinês tem muito controlo sobre os capitais do país, não só através de regulação apertada de fluxos para o estrangeiro, mas também através do controlo acionista dos principais bancos do país e influência no banco central. Consegue assim direcionar capital para onde achar “necessário”.
Não conseguimos por isso perceber, por quanto mais tempo é que pode fazê-lo sem sofrer as consequências.