O vírus propaga-se à velocidade da luz e no ambiente propício e adequado, onde os métodos de contenção já não funcionam e a medicação recomendada deixa de fazer o efeito desejado.

A cada instante o vírus é mais pernicioso e resistente, sobretudo na esfera pública. O vírus já penetrou no campo institucional e passou a ter um espaço credível para continuar a reproduzir-se com a devida legitimidade e credibilidade política. Já não é um vírus marginal e circunscrito a um ambiente reservado de uma minoria. Alastrou-se e está a contaminar diversos corpos que encontram na diferença humana um problema político.

O vírus tolda o olhar e molda o espírito de empatizar com o outro, através de um olhar sensível. Estamos, por efeito, na presença de um vírus que cultiva o ódio ao outro e incentiva a uma polarização exacerbada no espectro social, o que poderá culminar num conflito entre os sujeitos devido às diferenças.

O vírus é um mero instrumento laboratorial para infectar o corpo social e provocar a sua destruição, sem temer as consequências, sendo por isso um meio para alcançar um fim. Quando se considera que a solução de contenção do vírus passa, necessariamente, por assumir a genética desse vírus, apenas se está a legitimar o seu processo de disseminação.

O vírus parlamentar passou, nesta fase, a ser também governamental. Assim, este vírus controla a agenda política e condiciona a acção governamental, pelo que contê-lo torna-se mais difícil e complexo. O vírus é nefasto e contagioso, por isso, só num campo de resistência assumido e declarado será possível combatê-lo, sempre com recurso a resistência e inteligência política.

Esta contenção implicará uma transformação e mutação do corpo social e das suas veias circulatórias para que possam impulsionar um novo sangue, estimulando a revitalização do corpo social.

O discurso de denúncia deve representar, efectivamente, a tomada de consciência cívica e política de que estamos num novo mundo, que é, cada vez mais, semelhante ao mundo de “1984”, de George Orwell. Assumir uma postura é, pois, vital, mas esta assunção terá de encontrar inspiração no médico Bernard Rieux, criado por Albert Camus, na obra “A Peste”.

Espero que não acabemos como esta emblemática personagem de Camus e que possamos encontrar um antídoto para conter esta epidemia política, como parece estar a acontecer nos EUA, com a eleição de Zohran Mamdani.