O Chega “atraiu o pior que a vida política tem, o pior que o sistema tem”. Não sou eu quem o afirma, as palavras são do próprio André Ventura, fundador e único ilusionista cabeça de cartaz do circo que montou, proferidas em comunicado aos militantes no mês passado, quando se demitiu da presidência do partido. E se ele afirma, resta-nos concordar em pleno.

O partido não reuniu apenas tudo o que há de pior na política e na sociedade portuguesa, foi também uma oportunidade política perdida.

Num país atolado em socialismo e comunismo há 46 anos, com a sua rede de favores e compadrio, resultando numa democracia anímica, a chegada de um movimento de direita, mais tarde convertido em partido, que pugnava por novas ideias e valores mais conservadores, seria um contrapeso de valor numa sociedade anestesiada pela extrema-esquerda, a pesada corrupção endémica do PS e um parlamento refém de agendas minoritárias.

O que começou como um movimento a seguir com atenção, transformou-se num cancro putrefacto na sociedade portuguesa e na Assembleia da República. Um vírus de difícil vacina e cura.

Fui, sou, serei, no futuro, a favor de alianças à direita. Enquanto líder da Democracia21, assinei em 2019, com muito orgulho, um acordo de coligação com quatro líderes de diferentes facções da direita perante apoiantes, militantes e comunicação social. Voltaria a assinar. Não recuo um milímetro naquilo que defendi nesse momento.

Sou fruto da herança de Sá Carneiro, exímio na forma peculiar de tornar os outros irrelevantes pelo exemplo que deixou como político e pessoa no seu sempre curto tempo de vida. Mas é através das acções que demonstramos o nosso valor e conduzimos o país, não pelos soundbytes estafados, e um ano bastou para assistirmos ao degradar da política portuguesa com dois partidos a disputar o lugar no pódio do mais ridículo – o Livre e o Chega.

Cada um à sua maneira, e lutando em alas opostas, demonstraram cabalmente quão fácil é cavalgar o populismo e ser eleito por uma faixa de votantes atraídos por ideias políticas ocas e que premeiam o show-off em vez de medidas concretas para o país.

Depois de muitos números circenses, desde mudar o programa eleitoral a defender tudo e o seu contrário, eis a machadada final. Um deputado que se apresenta no Parlamento a defender o isolamento de uma etnia – muito embora eu jure aqui que, se essa mesma etnia casar mais uma menina que seja de 12 anos no meu país, irei lutar para a rua – não representa para mim um partido, mas sim um alvo a abater. O Chega está, neste momento, ao mesmo nível dos dinossauros do PCP, com os seus eurodeputados sem a certeza de que a ‘Correia do Norte não seja uma democracia’, e que apoiam estados totalitários.

A direita precisa de pujança, líderes carismáticos, novos players e novas premissas para inverter este ciclo de dependência do Estado e de corrupção.