Quem não se lembra do Zé Colmeia? O Zé Colmeia é um urso pitoresco antropomórfico, personagem principal de uma série de desenhos animados que passou com bastante regularidade na televisão, entre os anos 60 e meados dos anos 90 do século passado. Hoje é mais difícil vê-lo.
O Zé Colmeia (e o seu amigo Catatau), tinham por objetivo de vida arquitetar as mais variadas formas de roubar cestas de piquenique cheias de iguarias aos visitantes que veraneavam pelo parque “Jellowstone” (uma caricatura do Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA). No meio desta saga, existia também um guarda, o Ranger Smith, que, sendo um bom conhecedor das artimanhas do protagonista, tentava impedi-las a todo o custo.
Como em qualquer série que se prolonga por demasiado tempo, chega a altura em que as personagens ganham dimensão psicológica e dá-se o mais que inevitável anticlímax com uma inversão de papéis, em que o herói passa a vilão e o vilão a herói. A saga do Zé Colmeia não foi exceção. Assim, um dia, Zé Colmeia, viu-se colocado no papel de guarda do parque e viveu afrontado pelo dilema pessoal, de ter que roubar as cestas dos piqueniques, e profissional, de ter que zelar pela segurança e bem-estar dos transeuntes para garantir a continuidade do parque.
Imaginem agora que o Zé Colmeia, em vez de urso num parque de merendas, é ministro das Finanças de um país tornado socialista em dificuldades. Teria, provavelmente, de perder o chapéu mas poderia manter a gravata, o ar castiço e o olhar vago de quem não sabe bem ao que vai mas de quem anda por aí.
Sendo ministro desse país governado por socialistas, que promete o céu apesar de viver na terra, Zé Colmeia tem de engendrar mil e uma maneiras de conseguir cumprir o défice, apesar das promessas que o seu chefe faz, nem que para isso tenha de limitar os serviços básicos essenciais de um estado de direito, tais como a saúde, a segurança e a educação, recorrendo a cativações ou a “vetos de gaveta”, impedindo o normal funcionamento dos serviços.
Tem ainda de prometer a reposição, sem critério, dos salários e direitos da administração pública, apesar de saber que é impossível cabimentá-los nos escassos 71 milhões de euros que incluiu, para esse fim, no orçamento de “Jellowstone” para o ano de 2018. No meio de tudo isto, dá-se o anticlímax. De repente, e sem nada o prever, o nosso “herói” é nomeado para substituir o odiado “Ranger Dijsselbloem”, que em tempos idos vociferou que a malta dos parques do sul só pensava em “copos e gajas”, como responsável do concílio de líderes que visa pôr ordem no parque.
E agora? Como irá lidar o “nosso” Zé Colmeia com o dilema de ter de defender o indefensável, e a obrigação de representar vários países (perdão, parques) ao mais alto nível, perante instituições financeiras que desconfiam das suas artimanhas? Como conseguirá ser um detestável Ranger Smith para fora e um bonacheirão Zé Colmeia para dentro?
Como em todas as séries que optaram por fazer este tipo de episódios, não vai conseguir enganar toda a gente o tempo todo e a determinada altura o Zé Colmeia vai ter de revelar a sua verdadeira natureza. Nesse momento, ou se revela um “Ranger” encapotado, defensor de finanças em ordem, défices controlados e contas certas, ou confirma-se, definitivamente, a sua natureza de Zé Colmeia, tornando muito difícil a justificação das suas opções de política financeira interna perante os seus parceiros de concílio.
Mel ou fel? Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos.
P.S.: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.