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Obras anunciadas para a EN 125 são “cosmética” e “serviços mínimos”

Hugo Pena, do Movimento de Cidadania dos Utentes da EN 125, disse à agência Lusa que o investimento de 1,6 milhões de euros anunciado pela IP para trabalhos de melhoria na Subconcessão do Algarve Litoral (SCAL) abrange 10 troços e “apenas um” é na EN125 entre Vila Real de Santo António e Olhão.
6 Setembro 2020, 09h42

A falta de segurança da Estrada Nacional (EN) 125 no sotavento algarvio está a preocupar utentes, que veem as intervenções anunciados pela Infraestruturas de Portugal (IP) como “obras de cosmética”, mas também municípios, que os classificam como “serviços mínimos”.

Hugo Pena, do Movimento de Cidadania dos Utentes da EN 125, disse à agência Lusa que o investimento de 1,6 milhões de euros anunciado pela IP para trabalhos de melhoria na Subconcessão do Algarve Litoral (SCAL) abrange 10 troços e “apenas um” é na EN125 entre Vila Real de Santo António e Olhão.

“Não vai servir praticamente para nada, vão fazer exatamente o mesmo que se fez há dois anos: obras de cosmética, mandar areia para os olhos das pessoas, e, uma vez mais – e isto é que é importante referir – o Governo, e todos os governos que têm passado por aqui, que isto fique bem claro, porque este movimento é apartidário , têm desrespeitado sistematicamente os algarvios, principalmente os algarvios do sotavento”, considerou.

Em maio, a IP lançou dois concursos públicos para a execução de empreitadas para “correção de patologias em pavimentos” da rede rodoviária da SCAL em seis troços do barlavento (oeste) algarvio e quatro do sotavento (leste), um dos quais na EN 125.

Para o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), os trabalhos agora anunciados representam apenas “os serviços mínimos” e a ausência de uma intervenção profunda no sotavento, idêntica à que já foi feita no barlavento, deve-se aos diferendos jurídicos entre o Estado e os concessionários.

“Aquilo que está a acontecer foi uma exigência mínima. Digamos que isto são os serviços mínimos, que é tapar os buracos, num problema que está sem solução, numa expressão muito portuguesa, de pescadinha com rabo na boca”, afirmou António Pina à Lusa.

O também presidente da Câmara de Olhão considerou que estes “serviços mínimos” foram conseguidos “depois de alguma insistência”, sendo os trabalhos que “a Infraestruturas pode fazer enquanto o processo não for concluído” para “garantir, pelo menos, as questões de segurança”.

“Porque os investimentos que estão previstos, como a circular a Olhão, não podem avançar enquanto não for decidido qual é o contrato que está em vigor”, justificou, manifestando o desejo de, no futuro, o fim do pagamento de portagens na Via do Infante (A22) poder retirar tráfego da EN 125.

Segundo Hugo Pena, a EN 125 no sotavento regista uma “sinistralidade rodoviária bastante grande e alta”, tem “má sinalização, deficiente sinalização vertical, horizontal e luminosa, semáforos que não funcionam e outros que estão avariados”, defendendo a requalificação total do troço.

O presidente da AMAL recordou que a requalificação da EN 125, na sua extensão total, foi anunciada em 2008, mas sublinhou que, durante o Governo PSD/CDS-PP, “no tempo da ‘troika’, houve uma negociação do Estado português com o concessionário para retirar metade da concessão e voltar para o Estado, que é exatamente de Olhão para Vila Real de Santo António”.

“Esse novo contrato foi recusado mais do que uma vez pelo Tribunal de Contas, aliás, a última recusa foi no final do ano passado. Este Governo, agora, recorreu dessa decisão”, explicou.

Entretanto, a concessionária colocou num tribunal arbitral a renúncia da concessão “porque não há pagamentos”, mas, na verdade, neste momento, ainda não se sabe “que renúncia de concessão vão fazer, a primeira ou a segunda, portanto isto está tudo enrolado e não se faz absolutamente nada”, concluiu.

A Lusa esteve na EN 125 e falou com Carlos Pereira, um motorista que costuma trabalhar no sotavento e que qualificou as condições da estrada como “um pouco difíceis”, já que a estrada está “cheia de buracos e com o piso muito estragado”, o que propicia a ocorrência de “vários acidentes”.

“Agora, atualmente, as zonas com mais dificuldade são entre a Luz de Tavira e Olhão e a zona ali de Vila Real de Santo António. A zona de Praia Verde [concelho de Castro Marim] também falta ali uma rotunda”, exemplificou.

Manuel da Ponte, que vende fruta junto à EN 125, perto de Monte Gordo, disse à Lusa que, “desde Olhão até Vila Real de Santo António, é uma desgraça a estrada. Arranjam um bocado, mas não arranjam o outro”.

“Há muitos acidentes e esta zona de Olhão para Vila Real de Santo António, então, é uma desgraça”, lamentou, criticando que a situação tenha chegado a este ponto no sotavento, enquanto no barlavento a requalificação já foi concluída e a circulação se faz com mais segurança.

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