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Ocidente tenta adivinhar quem será o sucessor de Kim Jong-un

Irmã parece estar bem colocada. Não para a sucessão, mas para a regência, enquanto os sobrinhos crescem.
3 Maio 2020, 20h00

Como tudo o que tem a ver com a Coreia do Norte, a sua imagem no Ocidente corre ao ritmo dos rumores: no país mais fechado do mundo ao exterior e com um controlo absoluto do poder sobre todo e qualquer tipo de informação, é o que resta. E, por estes dias, o que resta é que talvez Kim Jong-un, o jovem cada vez mais gordo que atua como líder da Coreia do Norte, já não se conte entre o número dos vivos. Ou que – o que não é necessariamente melhor para vários governos em diversas partes do planeta – talvez ainda esteja vivo mas em estado de saúde muito grave.

Como acontece sempre que Kim Jong-un desaparece, e não é a primeira vez que o faz – apesar de ser de salientar que a Coreia do Sul e a China já desmentiram qualquer anormalidade – o Ocidente dá início a um interessante jogo de adivinhação sobre quem será o personagem que o pode substituir. Salvo melhor argumento, o Ocidente não faz a mais pálida ideia sobre o assunto. Faz recordar o que sucedeu nos anos 50 do século passado, quando o Ocidente se deitou a adivinhar quem seria o sucessor de José Estaline, desaparecido em Moscovo em 5 de março de 1953.

E os motivos da semelhança são claros: os nomes que em determinada altura fazem parte do restrito ranking de ‘elegíveis’ pode alterar-se de um momento para o outro por via das purgas que tanto o regime estalinista como a dinastia republicana norte-coreana demonstraram ter gosto em usar sempre que lhes apetece.

No caso coreano há pelo menos uma certeza: desde 1951, quando acabou a guerra da Coreia, a sucessão tem seguido a linha familiar, o que com certeza não está escrito na Constituição – se se der o caso de haver lá uma (há: é de 1948 e a última revisão será de 2013) – mas afunila o número de candidatos. No caso – e sendo certo que os filhos, talvez três, de Kim Jong-un ainda são crianças – a apenas um: a sua irmã, Kim Yo-jong, de 31 anos (talvez), chefe de gabinete extra-oficial, segundo a imprensa ocidental.

A sua presença ao lado do líder nos últimos dois anos não passou despercebida dos analistas, sabendo-se que, além dessas funções não oficiais de chefe de gabinete, é formalmente vice-presidente do poderoso Comité Central do Partido dos Trabalhadores e membro suplente do seu politburo (ou núcleo duro).

Mas os analistas convergem na evidência de que muito dificilmente uma mulher poderia assumir o lugar mais alto da hierarquia – o que não é de estranhar, dado que algumas monarquias europeias ainda até há bem pouco tempo também não contemplavam essa possibilidade. Portanto, um dos cenários a considerar é a constituição de uma espécie de gabinete de regência até que um dos filhos de Kim Jong-un tenha idade (e espera-se que alguma sabedoria) para suceder ao pai.

Ora, nessas circunstâncias, o núcleo duro de Kim Yo-jong (ou seja, o gabinete de regência) seria com certeza constituído por Choe Ryong-hae, presidente do Presidium da Assembleia Popular Suprema, o congresso de representantes lá do sítio e que por inerência é considerado o chefe de Estado. Já foi chefe político das Forças Armadas da Coreia do Norte, já sob ordens de Kim Jong-un. E também por Pak Pong-ju, membro do politburo e ex-primeiro-ministro que supervisionou o esforço norte-coreano para revitalizar a economia.
As linhas sucessórias paralelas é que não estão no ativo. Kim Kyong Hui já foi uma figura poderosa no círculo de liderança norte-coreano quando o seu irmão Kim Jong-il (pai do atual líder) governou o país. Mas desapareceu de circulação desde que o seu marido, Jang Song Thaek, foi executado em 2013, diz-se que por ordens de Kim Jong-un.

Kim Han-sol é sobrinho de Kim Jong-un, mas também caiu em desgraça e está exilado. É filho de Kim Jong-nam, meio-irmão mais velho do líder (e que chegou a ser apontado como sucessor do pai), mas acabou assassinado, diz-se que por agentes norte-coreanos em 2017, na Malásia.

O panorama é este – mas convém recordar que é um panorama “à ocidental”. A realidade norte-coreana pode ser completamente diversa deste jogo de adivinhação.

Artigo publicado no Jornal Económico de 30-04-2020. Para ler a edição completa, aceda aqui ao JE Leitor

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