A encerrar mais um (demasiado) longo ano letivo, olho para os títulos dos jornais desta semana e salta-me, mais uma, à vista a bateria de críticas àquela que, para mim, é a mulher de referência no meu país desde que entrámos em modo pandemia dos cinco “m”: medo, morte, mediatismo, má informação e maledicência.

Associada a todos estes pontos esteve, está e estará uma mulher que tem sido representada tanto como heroína coletiva (menos vezes) quanto como uma decisora inábil (vezes sem conta). Ora, em contraciclo com os títulos mediáticos, dedico este texto a Graça Freitas, Diretora Geral da Saúde, que, a par da ministra da Saúde, Marta Temido, tem sido o rosto operacional pela defesa do bem-estar sanitário de todas/os, essencialmente, desde o início de 2020.

Se numa fase inicial da chegada do SARS-CoV-2 a Portugal a víamos quase todos os dias em conferências de imprensa, a partir de meados desta travessia pelo desconhecido – ainda longe de terminar – passámos a vê-la menos, mas sabendo que o trabalho continua a ser feito, que a vacinação tem sido concretizada, que os cuidados devem continuar a ser tidos em conta, enfim, que há uma profissional abnegada, incansável e consistente que dedicou e dedicará grande parte da sua vida à missão do serviço público, subtraindo a sua própria vivência pessoal em prol da segurança e proteção dos seus concidadãos.

Sim, tenho uma consideração imensa por esta mulher. É nela que encontro sentido para muitas das minhas dúvidas – porque ela também as tem e revela-as sem rodeios. É nela que encontro uma vontade incessante de pôr termo a esta condição que nos afeta a todos – e a ela também. É nela que deteto receios múltiplos, porque a ciência não responde a tudo da noite para o dia – e porque ela não é política, é uma técnica e de excelência.

É nela que encontro, porventura, uma vontade inesgotável de explicar tudo de forma pedagógica, o que contraria a velocidade e os atropelos de políticos apressados em dar respostas imediatas à população sem a exaustiva e necessária verificação científica e técnica a priori. É nela que temos depositado muitas das nossas frustrações que esta cruzada pandémica nos tem trazido.

A culpa? Segundo os jornais e os média em geral, opinion makers e opinions em geral, é dela. Da Graça Freitas, que não sabe comunicar, da Graça Freitas que é o bode expiatório de pais, filhos, médicos, especialistas, tudólogos, jornalistas e jornaleiros, políticos e politiqueiros, bloguers ou blogueiros, influencers ou algo do género; é dela, sempre dela.

Ora, pois. Vamos ver e este retrato da Diretora Geral da Saúde é, antes de mais, baseado em enviesamentos de género e de idade, em grande parte dos casos. Da mesma forma que é atacada e colocada no lado mau da força-tarefa contra a Covid-19, um conjunto de outras personagens, com ar mais ou menos militar, político ou mediaticamente esperto é significativamente menos escrutinado do que a representante máxima da DGS.

Exemplos: 1) Quando é posta em causa por emitir informação sem certezas absolutas, justifica-se sempre – sempre – com as evidências científicas que continuam em falta. Mas de nada serve. Nem para políticos, nem para jornalistas. Quando é posta em causa por explicar em demasia – coisa que nem políticos nem jornalistas com pressa apreciam – é acusada de falar demais e de ser “avozinha”. Haja paciência. Haja respeito. Haja reconhecimento.

À Graça Freitas, aqui fica o meu agradecimento público.