Diz o povo que nos pormenores é que está o Diabo. Tem razão. Não é nos grandes princípios que a acção política se perde. É justamente nas particularidades e nos aspectos menores que podemos constatar a incompetência (ou a irresponsabilidade) de quem nos governa.

Já aqui escrevei  em como a política do meio ambiente e designadamente a reacção às alterações climáticas podem criar conflitos sérios que, no limite, põem em crise a democracia. Muito simplesmente porque as medidas que os governos terão de tomar são necessariamente impopulares ou tendem sempre a zangar este ou aquele sector económico e social. Os coletes amarelos em França nasceram (entre muito outro lixo extremista) da reacção a uma taxa sobre combustíveis.

Ora, justamente para tomar medidas concretas nestas matérias, os governantes têm de ter força política e coragem. O actual Governo pode ter tudo, mas força e coragem é que não tem. Veja-se o curriculum em matéria de incêndios e segurança. Pior ainda se o momento para tomar essas medidas é o da véspera de eleições.

Voltando ao diabo: o ministro do Ambiente sabe perfeitamente que os meses que se aproximam serão de agravamento da seca que já atinge todo o território nacional (e estamos no Inverno). E que nessa eminência (menos chuva: problemas na agricultura e no abastecimento público de água) haverá que tomar medidas – algumas impopulares – quanto antes (já as devia ter tomado em 2018). E contudo, que saibamos, não há uma única medida. Ou melhor, até há mas é do domínio da adivinhação.

Há coisa de um mês, ouvi-o falar de um transvase do Alqueva para Setúbal. Quando? Onde? Como? Mas acrescentou logo, para tranquilizar o povo, que as previsões meteorológicas asseguravam um Fevereiro chuvoso. Terei ouvido bem? Previsões meteorológicas a um mês? É claro que Fevereiro não deu um pingo de chuva e basta consultar os dados das reservas das nossas albufeiras para ficarmos (ainda mais) preocupados.

Mas a preocupação maior é a sensação de total insegurança que o actual Governo nos transmite em matérias fundamentais do Estado, como é o caso da gestão de recursos naturais e em concreto da água. Com eleições em Outubro, a única medida expectável do Governo passa, aparentemente, pela fé inabalável nas previsões meteorológicas. Oh diabo! Aqui, como em outros casos, faria falta um primeiro-ministro que nos dissesse convictamente: que se lixem as eleições! Terá havido algum?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.