O Instituto dos Registos e Notariado divulgou um parecer no qual se nega recurso a um cidadão que quer ter a fotografia no cartão do cidadão com um escorredor de massa na cabeça por a sua religião ser o Pastafarianismo, cujo Deus é o Monstro do Esparguete Voador e que incentiva os fiéis a usarem tal indumentária. O seu livro sagrado é o “Evangelho do Monstro do Esparguete Voador”, escrito por Bobby Henderson e publicado em 2006. O Esparguete é a sagrada comunhão (a hóstia) de Sua Pastidade o Monstro do Esparguete Voador e um pastafariano come-o sempre que pode.

Ao contrário do que insinua o parecer, o Pastafarianismo é uma verdadeira religião, reconhecido na Holanda em 2016, ano em que foi celebrado o primeiro casamento pastafariano na Nova Zelândia, com pasta no copo-d’água. Um pastafariano é reconhecível por dizer “R’Amém” em vez de “Amém” e rezar “Em nome do Esparguete, do Molho de Tomate e da Carne Picada”. É um abuso comparar o Monstro ao Unicórnio Cor-de-rosa Invisível, que é a divindade de uma religião satírica, ou invocar para a discussão a Chaleira de Bertrand Russell, que gravitaria entre a Terra e Marte.

Sou sensível ao tema porque já confessei que professo o Jedíismo, criado em 2001 nos Estados Unidos. Acredito na Força, e espero que ela esteja convosco, ao contrário da Covid. Só no Reino Unido somos 400 mil, mas é na Nova Zelândia, com 53 mil, que somos mais per capita. Pois um de nós foi posto na rua de um centro de emprego em Inglaterra por recusar tirar a capa; o pedido de desculpas que nos foi feito depois não apaga esta vergonha.

Só gostaria que em Portugal as outras religiões fossem tratadas como é a Igreja Maradoniana na Argentina. É verdade que é mais antiga, fundada em 1998, o que nos põe hoje em 22 d.D. (depois de Diego), e até tem pentagrama D10S (Diós, 10 é o número de Maradona). A sua finalidade é manter viva a paixão e magia com que o Deus Diego jogava futebol, com a cabeça, os pés e a mão. Ser membro da Igreja Maradoniana dá até jogos gratuitos no casinoonlineargentina.

Há muitos outros exemplos, como os Cao Dai, do Vietname, que ordenam os 72 planetas onde há vida do que está perto do Céu, posição 1, ao que está perto do Inferno, o 72; a Terra é o 68. O símbolo desta religião é o olho esquerdo de Deus. Ou o Frisbeetarianismo, que diz que quando morremos ficamos colados ao teto até alguém nos tirar de lá com um pau comprido e a nossa vida recomeçar.

Ou a Igreja do Apocalipse, para quem devemos viver cada relação como se fosse a última, daí o diálogo: – o João tem uma namorada nova? – Sim, ele anda a apocalipsar que nem louco! E se andar com um escorredor de massa na cabeça parece estranho, que tal a prática de 700 anos do Templo Grishneshwar, na Índia, de atirar bebés de 15 metros de altura para um lençol, para os fazer mais inteligentes e sortudos? Mas não há nada como a nova religião que Trump quer criar, cujo preceito fundamental é: manda quem fica em segundo lugar.