Começo este breve texto por dizer “obrigado”. E dedico esta palavra em primeiro lugar aos portugueses, fazendo-o com toda a humildade num elementar exercício de justiça. Depois, quero publicamente estender este meu reconhecimento aos trabalhadores do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), organização em que atualmente exerço funções dirigentes.

O meu agradecimento aos portugueses tem origem na extraordinária expressão de carinho e preocupação que demonstraram para com a floresta, que fez com que em poucas horas, e através das mais diversas formas, chegasse ao ICNF a expressão da sua vontade em se associar a uma campanha, tão simples e singela que poucos lhe auguravam sucesso – distribuir aos cidadãos 50.000 árvores dos viveiros do ICNF.

Tudo isto a propósito da decisão tomada este ano, e em face do elevado número de plantas que subsistiam nos viveiros florestais do Instituto no final da época, de as ceder gratuitamente aos cidadãos que as quisessem plantar e delas pudessem cuidar. Tratando-se de plantas que deixaram de ter condições para utilização em projetos de florestação, por não cumprirem os critérios de certificação necessários, com particular expressão este ano devido à situação de pandemia que atravessamos, havia que lhes dar um destino de forma a permitir a continuidade da atividade dos viveiros, que anualmente fornecem aproximadamente um milhão de plantas para utilização sobretudo em ações de florestação no território nacional.

Invertendo uma dinâmica de décadas em que o destino destas plantas passava sobretudo pela sua incorporação no solo, este ano decidimos sem recorrer a publicidade ou qualquer outro custo de promoção, identificar o número de plantas que teríamos em condições de oferecer aos cidadãos, definir os locais onde teríamos possibilidade de fazer essa cedência sem comprometer o normal funcionamento dos serviços e onde pudéssemos cumprir as regras de distanciamento da DGS e divulgar esta nossa decisão.

Aproveitando a comemoração do Dia Internacional das Florestas e da maior atenção que normalmente os meios de comunicação social dão ao tema nesta altura, pedimos apoio para passar a mensagem, não sem algumas dúvidas quanto à possível aceitação deste tipo de iniciativa, sobretudo dirigida ao cidadão comum.

Com este contexto, e na tentativa de potenciar aquilo que gostávamos que fosse o resultado final – o aproveitamento das plantas em jardins, parques, hortas e outros locais onde pudessem ser plantadas e cuidadas durante o período de maior stress hídrico – decidimos aumentar o número de plantas a disponibilizar no caso de pequenos proprietários rurais que dispusessem de pequenos espaços que pudessem acolher um maior número de plantas. Tudo isto na tentativa de promover o aproveitamento de plantas de espécies autóctones viáveis e com um claro interesse para todos.

Mas a realidade superou todas as expetativas que tínhamos inicialmente e em poucas horas os portugueses mobilizaram-se para se envolver neste desafio, fazendo chegar ao ICNF muitos milhares de pedidos, por email, carta, telefone e até presencialmente. E se essa expressão do interesse nos satisfaz bastante, não escondemos a carga administrativa que dela resultou, assim como o enorme esforço que os trabalhadores do Instituto que estão envolvidos nesta campanha – e são muitos – estão a desenvolver desde a divulgação desta iniciativa.

E esse esforço justifica o meu segundo reconhecimento e agradecimento. Apesar de termos consciência que só foi possível corresponder a uma parte dos pedidos que recebemos, os trabalhadores do Instituto estão ativamente a levar a cabo a distribuição das plantas e a contactar aqueles que as solicitaram, tendo presente que precisaremos de mais tempo do que o inicialmente previsto para o fazer. Mas não deixaremos nenhum pedido sem resposta e cá estaremos para distribuir até à última planta disponível, com a convicção de que aqueles que se mobilizaram para as recolher e delas cuidar farão um excelente trabalho em prol de algo muito maior que cada um de nós.

Podemos olhar a árvore sem ver a floresta, mas não conseguimos olhar para a floresta sem ver as árvores, porque sem elas não há floresta. E os portugueses perceberam isso muito bem.