Na semana passada, uma loja de venda de peixe do Kuwait foi encerrada depois dos seus donos terem sido apanhados a pôr olhos falsos nos peixes para os fazer parecer mais frescos. A ordem de encerramento dada pelo Ministério do Comércio daquele país foi muito falada nas redes sociais, puxando pelo ridículo da situação; até uma empresa do ramo anunciou que “vendia peixe sem cosmética”, com imagens de peixe com lentes de contacto de várias cores. Houve até quem se aventurasse a opinar que o problema não estava nos olhos falsos, estava na cola usada pelo comerciante criativo.

Olhos artificiais em peixes pode ser uma novidade, mas olhos artificiais em si não. Num registo mais sério, são muitos os ilustres conhecidos que usam ou usaram olhos artificiais. O primeiro exemplo é Peter Falk, o Columbo da televisão, que perdeu um olho aos três anos de idade. Outro é Sammy Davis Junior, que o perdeu num acidente de carro em 1954. Outro exemplo é Ry Cooder, que usa um olho artificial desde os quatro anos. A lista continua com o ator Leo McKern, Lauren Scruggs, Sandy Duncan e muitos, muitos outros.

O objetivo de quem usa olhos artificiais é simples: melhorar a aparência. Foi também o que aconteceu no Kuwait, melhorar a aparência dos peixes, embora com um interesse menos nobre, o de vender peixe em deficiente condição. Mas por vezes também se usam olhos artificiais para dar um ar de maior atenção, potencialmente muito úteis em locais de elevado fator de fatiga, que nos esgotam as forças (e a atenção) depressa, como os parlamentos.

É por vezes referido a este propósito o episódio passado com Camilo José Cela y Trulock, no debate da Constituição em 1977, no Senado. Estava este senador adormecido quando o presidente Antonio Fontán consegue fazer-se ouvir pelo “durmiente” e lhe diz que “está dormido”. José Cela afiança-lhe que não, que está “durmiendo, pero no dormido”. O presidente Fontán, catedrático de Latím, replica: “Y no es lo mismo?”. Responde-lhe então Cela: “Pues, no. Como no es igual estar jodido que estar jodiendo”.

A criatividade do vendedor de peixe do Kuwait expôs claramente que o fabricante dos olhos artificiais dos peixes está a perder uma oportunidade única de negócio: vender os olhos falsos não aos comerciantes, mas aos parlamentares. Com duas vantagens: uma, seria aparente aos cidadãos que temos parlamentares atentos, em todos os momentos e todas as situações; outra, os debates parlamentares seriam bastante mais rápidos.