O Novobanco será comprado pelo banco francês BPCE por 6.400 milhões de euros. Esta fusão e aquisição bancária representa a primeira grande operação transfronteiriça de fusões e aquisições bancárias dos últimos anos.
Estas operações cross-border são historicamente mais desafiantes do que as realizadas dentro do mesmo mercado, refere o relatório da Oliver Wyman: European Banking M&A Surges in 2025, que entre outras conclusões destaca que o volume de fusões e aquisições anunciadas no setor bancário, durante os primeiros quatro meses do ano, duplica por comparação ao ano anterior, o que poderá tratar-se de uma viragem estrutural no setor.
Os bancos estão mais valorizados do que em qualquer momento da última década e estão a gerar um excesso significativo de capital (mais de 300 mil milhões de dólares nos próximos 3 anos), o que, para muitos bancos, representará uma rentabilidade superior à das recompras de ações ou do crescimento orgânico, defende a consultora.
“Como consequência, assiste-se a uma retoma da atividade de investimento”, refere a Oliver Wyman.
No entanto, o European Banking M&A Surges in 2025 não descarta movimentos de consolidação transfronteiriça a curto-médio prazo, uma vez que muitos bancos enfrentam limites devido às elevadas quotas de mercado no seu país de origem e, por isso, têm de procurar operações internacionais para impulsionar o seu crescimento.
As fusões e aquisições no setor bancário europeu estão assim de volta. O volume de negócios recuperou de mínimos históricos, duplicando desde 2020 para 36 mil milhões de dólares em 2024, impulsionado pela rentabilidade restaurada do setor, pela melhoria das posições de capital e pela urgência estratégica pela escala e diversificação.
Embora a volatilidade do mercado desencadeada pela ação tarifária dos EUA tenha ameaçado a recuperação global das fusões e aquisições — com negócios adiados e, em alguns casos, cancelados —, tal não parece ter prejudicado a realização de negócios no setor bancário, constata a Oliver Wyman.
Um recorde de 27 mil milhões de dólares em negócios bancários europeus foi anunciado desde o início de 2025, quase o dobro do volume registado no mesmo período em 2024, colocando as fusões e aquisições no setor bancário europeu no caminho para um ano recorde.
Segundo a Oliver Wyman, as equipas de gestão dos bancos europeus têm a motivação, e agora os meios, para se envolverem em fusões e aquisições estratégicas. A construção de escala e capacidade continua a ser um catalisador fundamental para a ação. Pois, 13 anos após a introdução da União Bancária Europeia, a região, incluindo o Reino Unido, continua significativamente mais fragmentada do que os EUA. Os cinco maiores bancos da UE e do Reino Unido detêm apenas 24% dos ativos bancários, em comparação com 57% dos EUA.
“Considerando os custos fixos significativos da tecnologia e da conformidade regulamentar, a escala é importante”, defende a Oliver Wyman que lembra que existe uma forte relação entre dimensão e eficiência nos bancos europeus.
“A nossa análise de uma amostra das maiores transações de fusões e aquisições bancárias na última década mostra que, em média, por cada 100 mil milhões de dólares em ativos adquiridos, os compradores podem esperar mais de 2 mil milhões de dólares em redução de custos”, revela a Oliver Wyman.
Os bancos procuram também cada vez mais utilizar as fusões e aquisições para adquirir capacidade, como a gestão de património e de activos, e a área dos pagamentos, bem como para melhorar a qualidade dos lucros e dos retornos.
“Os bancos europeus continuam excessivamente expostos às receitas de juros, o que representou um desafio existencial para os lucros durante os oito anos de taxas negativas em toda a Zona Euro. Com os economistas a preverem cortes de juros de 80 pontos base por parte do Banco Central Europeu (BCE) até ao final do ano, os lucros estão novamente em risco. Como resultado, os bancos procuram alterar a sua composição de lucros em favor de receitas de taxas estáveis e recorrentes, e as fusões e aquisições (M&A) são um caminho acelerado para atingir este objetivo”, acrescenta a consultora.
A capacidade e o apetite para se envolver em fusões e aquisições dos principais bancos europeus também estão a impulsionar a atividade, após uma década de estagnação. Os principais bancos europeus estão a gerar um excesso substancial de capital, devolvendo mais de 300 mil milhões de dólares aos acionistas através de dividendos e recompras desde 2022. Nos próximos dois anos, espera-se que os bancos do quartil superior gerem mais de 500 mil milhões de dólares em excesso de capital acima dos mínimos regulamentares, avança o estudo.
Com as avaliações dos bancos europeus a aproximarem-se de níveis recorde – o índice Euro Stoxx Banks subiu 380% desde 2020, com mais de 50% dos bancos europeus a serem negociados acima de 1x o valor contabilístico – as equipas de gestão dos bancos têm um conjunto cada vez maior de opções sobre onde aplicar este excesso de capital, refere a Oliver Wyman.
“Embora a recompra de ações tenha sido uma boa estratégia até à data para reduzir o número de ações e impulsionar as avaliações, as equipas de gestão verão retornos decrescentes com novas recompras. Os retornos relativos das fusões e aquisições parecem cada vez mais atrativos”, destaca a consultora.
Ambiente político mais favorável a fusões bancárias, mas…
Por outro lado, segundo a Oliver Wyman, há um ambiente político cada vez mais favorável a remover as barreiras à consolidação.
Os governos estão gradualmente a desfazer-se das suas participações em bancos adquiridos durante a crise financeira mundial de 2008.
“Os governos europeus venderam mais de 80 mil milhões de dólares em ações de bancos desde o início da reprivatização bancária em 2013, com vendas substanciais no Lloyds Banking Group, Natwest, AIB, Monte dei Paschi e Commerzbank, e esperamos que os governos reduzam ainda mais as suas participações nos próximos anos. A venda de participações governamentais permitiu aos bancos adquirentes aumentar as suas participações e removeu as restrições anteriores dos acionistas à consolidação”, revela o relatório da Oliver Wyman.
Os reguladores também se tornaram mais favoráveis às fusões e aquisições bancárias como trampolim para a concretização da União Bancária, e as fusões e aquisições podem ser uma utilização vantajosa do capital do ponto de vista regulamentar.
Os bancos estão cada vez mais a encontrar mais facilidade em obter aprovação regulatória para aplicar capital em fusões e aquisições do que em recompras. No entanto, ainda existem barreiras.
O caso mais emblemático de barreiras políticas foi o que surgiu na tentativa do italiano UniCredit de comprar o alemão Commerzbank. Segundo a Reuters, o Chanceler alemão, Friedrich Merz, declarou à equipa do Commerzbank que se opõe aos esforços do banco italiano UniCredit para aumentar a sua participação no banco, numa carta que o Governo alemão classificou como “um sinal importante” sobre a sua posição. Merz dirigiu-se aos representantes laborais do Commerzbank numa carta datada de 26 de maio e publicada no LinkedIn na terça-feira, afirmando que a abordagem do banco italiano ao segundo maior banco da Alemanha era inaceitável.
O UniCredit divulgou no ano passado que tinha construído, através de uma rede de transações financeiras viade derivados, uma participação de cerca de 28% no Commerzbank e, em março deste ano, recebeu a aprovação do Banco Central Europeu para atingir os 29,9%. Segundo as regras alemãs, ultrapassar o limite de 30% desencadeia uma oferta de aquisição.
No entanto, e depois de revelar que as hipóteses de adquirir o banco italiano BPM são inferiores a 20%, o CEO do Unicredit, Andrea Orcel, também descartou a possibilidade de compra do banco alemão Commerzbank, considerando que o preço das ações está acima do pretendido e não traz valor aos acionistas.
“A este nível, não veríamos valor para os nossos investidores”, disse, numa entrevista à estação norte-americana CNBC, citada pela Europa Press, apontando que o Unicredit está “muito satisfeito” com o lucro obtido através da sua participação no Commerzbank.
Por outro lado, também em Portugal se verificaram recentemente tentativas de barreiras políticas à tentativa de compra do Novobanco pelo CaixaBank. O Ministro das Finanças manifestou-se contra o aumento de quota de mercado dos bancos espanhóis em Portugal e o Governo enviou uma mensagem ao ministro da Economia, Comércio e Empresas de Espanha, Carlos Cuerpo, e ao líder do banco para expressar desconforto com uma possível aquisição por parte do dono do BPI.
Mas não se encontram apenas barreiras políticas nas fusões cross-border. Basta ver o que acontece em Espanha, que, numa situação inédita, lançou uma consulta pública pensada para respeitar o “interesse geral” dos cidadãos.
A oferta pública de aquisição (OPA) do Banco Bilbao y Viscaya Argentaria (BBVA) lançada sobre o Banco Sabadell só terá “luz verde” do Governo de Espanha depois dessa consulta pública. O que levou a Comissão Europeia a avisar o Governo espanhol de que não tem poder para bloquear a OPA hostil do BBVA sobre o rival Sabadell.
O CEO do Banco Sabadell, César González-Bueno, afirmou esta terça-feira, numa reunião entre executivos e acionistas, que existe uma “probabilidade muito elevada de o BBVA se retirar da OPA”, segundo El Confidencial. Na sua opinião, quando o Governo tomar a sua decisão, a equipa de gestão do BBVA terá a primeira oportunidade de se retirar da OPA, utilizando as condições impostas pelo Governo espanhol como escudo, se o quiserem fazer.
A OPA está atualmente a ser analisada pelo Governo. Depois da autorização da CNMC a 30 de abril, com sete compromissos importantes que não deverão afetar a rentabilidade da operação, o Governo tem até 27 de junho para decidir se alarga a lista de condições para a OPA, sempre por razões de interesse geral e não relacionadas com a concorrência. González-Bueno acredita que o BBVA terá aqui uma boa oportunidade para se retirar da OPA se o Governo, como se prevê, impuser condições adicionais à CNMC.
Os governos nacionais e regionais também estão a frustrar os processos de negociação e podem impor custos adicionais ou reter aprovações para fusões completas. Isto significa que apesar de no geral, a perspectiva política ser mais favorável, ainda não está isenta de desafios.
Consolidação bancária interna está bem encaminhada em vários mercados da Europa.
Em particular, a Itália, o Reino Unido, os países nórdicos e os países da Europa Central e Oriental, que possuem longas cadeias de bancos mais pequenos “de subescala ou de média dimensão”, são os mais propensos a testemunhar uma consolidação adicional, diz a Oliver Wyman.
A Itália tornou-se recentemente um ponto de acesso para fusões e aquisições bancárias europeias, com pelo menos seis grandes negócios pendentes no valor de mais de 40 mil milhões de dólares, incluindo a oferta pública de aquisição do Banco BPM pelo Unicredit, a abordagem do Monte dei Paschi ao Mediobanca e a oferta do BPER ao Banca Popolare di Sondrio.
Outros mercados são menos adequados para a consolidação interna por uma série de razões, desde a concentração de mercado existente, que gera preocupações com a concorrência (França), até à estrutura de mercado e ao papel dos bancos estatais ou cooperativos (Alemanha).
Em mercados mais propenos a fusões bancárias o argumento para a consolidação é claro: construir escala e diversificação, ao mesmo tempo que se proporcionam sinergias de custos significativas da sede, das redes de agências e dos sistemas de IT.
As fusões e aquisições bancárias transfronteiriças representam 30% do valor das transações desde 2020. Grande parte da atividade transfronteiriça recente foi catalisada pelo desinvestimento de ativos não essenciais por parte dos bancos em mercados ou negócios que não são estratégicos para eles.
Fusões cross-border
O BCE manifestou-se a favor de uma maior consolidação transfronteiriça, com a presidente do BCE, Christine Lagarde, a sinalizar as fusões transfronteiriças como “desejáveis”. Entretanto, o seu antecessor, Mario Draghi, tem instado a Europa a concluir a União Bancária e a criar bancos europeus que possam competir a nível global, num relatório recente sobre a competitividade europeia.
No entanto, as fusões e aquisições transfronteiriças enfrentam muitas barreiras. O caso económico é menos óbvio do que para as fusões e aquisições domésticas, com sinergias mais pequenas, muitas vezes devido à sobreposição mais limitada e à necessidade de manter sedes duplas.
“A nossa análise das 31 grandes transações transfronteiriças nos últimos cinco anos mostra que, nas transações transfronteiriças, mais de metade dos adquirentes tiveram um desempenho inferior ao do mercado nos três anos seguintes à transação”, refere a Oliver Wyman.
As avaliações são muito diferentes entre mercados, tornando alguns mercados, como os nórdicos, desafiantes para os bancos estrangeiros.
As barreiras políticas também são reais, com os governos e os políticos nacionais a oporem-se frequentemente à consolidação transfronteiriça.
A lenta implementação da União Bancária Europeia continua a ser uma barreira a uma consolidação mais profunda, mas um regime único de licenciamento seria um importante catalisador para fusões e aquisições transfronteiriças em grande escala, sublinha a consultora. Mas, “embora o padrão seja elevado, haverá transações selecionadas que o superarão. Estas serão aquelas em que a história de criação de valor será convincente, a vontade política estará presente e, frequentemente, em países ou sub-regiões adjacentes com ligações culturais ou economias ligadas”, defende a Oliver Wyman.
O financiamento de activos representou outra tendência importante nas fusões e aquisições bancárias nos últimos cinco anos, com os bancos como os principais compradores, muitas vezes enquanto as instituições não bancárias e financeiras cativas das empresas industriais procuram racionalizar a sua presença.
“A mudança consiste em aumentar a escala e a rede no financiamento de ativos. Num mercado de baixo crescimento do PIB, os bancos europeus procuram aumentar os saldos dos empréstimos através de meios inorgânicos, e os negócios de financiamento suportados por ativos representam uma via atractiva, com rendibilidades na ordem dos 15% e baixo custo de risco. Nos últimos anos, o Nordea, o Credit Agricole e o Groupe BPCE foram adquirentes neste setor. Prevemos que esta tendência se mantenha”, conclui a Oliver Wyman.
Por fim, a consultora defende que a gestão de patrimónios é uma das principais prioridades de crescimento dos bancos europeus, que procuram aumentar as receitas de comissões estáveis e de elevada qualidade. A Oliver Wyman defende que atualmente, os bancos europeus obtêm apenas menos de 45% das receitas provenientes de comissões, em comparação com mais de 50% dos bancos americanos. Os bancos globais mais valorizados obtêm, de forma consistente, mais de 60% das receitas provenientes de comissões.
“A procura existe, tal como a oferta de ativos. Esperamos que cerca de 25 mil milhões de dólares em enterprise value em ativos de capital detidos por private equity cheguem ao mercado nos próximos três anos”, prevê a consultora.
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