Sobre Rui Rio há, para já, pouco a dizer. O desfecho do congresso do PSD não corresponde a uma vitória esmagadora de Rio e da sua equipa. A Comissão Política teve o segundo pior resultado de sempre, porventura pela escolha difícil de compreender que é Elina Fraga e que se revelou um tiro no pé nas 48 horas seguintes, com a notícia de uma investigação à gestão financeira da Ordem dos Advogados no período em que esta esteve sob o seu comando. Poucos, aliás, mesmo antes desta notícia, perceberam esta escolha.
Bem sabemos que a retórica política é pouco dada a realismos e é, por natureza e vocação, exagerada. Mas, efectivamente, é de realismo que o PSD precisa. O país está a crescer, o emprego a diminuir, estamos todos a viver melhor. O PS, a continuar assim, não vai a lado nenhum. O PSD não tem alternativa que não a de um segundo lugar, pelo menos para já.
Os próximos anos serão da afirmação do PSD como partido responsável mais do que de oposição, é certo. O caminho para voltar a sonhar com vitórias está por fazer, entregue ao tempo da política que umas vezes é longo, outras é surpreendentemente curto. O líder que suceder a António Costa é aquele que mais próximo estiver dos portugueses do “centrão”.
Nas reflexões sobre o Congresso do PSD muito se ouviu falar de um agradecimento quase saudosista a Passos Coelho, o que não deixa de surpreender por duas razões.
A primeira porque o ajustamento difícil, doloroso e traumatizante mas necessário a que o país foi sujeito foi obra, em primeiro lugar, da troika. Um ajustamento que veio acompanhado do “ir além da troika” encabeçado por Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque que, de forma autista e enviesada por uma cegueira ideológica, implementaram um pacote de medidas para as quais não tinham nem mandato externo nem certamente interno.
O país que resultou desse período está melhor. E, muito provavelmente, estaria melhor fosse qual fosse o Executivo desde que, naturalmente, não fosse liderado por um qualquer radical de esquerda, e nunca foi esse o caso em Portugal. Passos deu a cara. Entregou um país ajustado. O modo como chegou aos números certos não é à prova de bala. E mais haveria a dizer sobre o estado em que deixou a banca, ou já nos esquecemos do presente escondido chamado Santander que deixou ao atual executivo?
A segunda é como chegou o PSD ao estado atual. Sem conseguir apresentar um candidato que cumprisse os mínimos dos mínimos para nenhuma das principais câmaras. Com um líder de bancada parlamentar a apresentar todos os piores vícios das jotas partidárias. Que falava para dentro. Que diz que o maior partido da oposição é, em primeiro lugar, contra qualquer proposta apresentada no Parlamento se não for sua, sem sequer a ler. Um partido com mau perder incapaz de se levantar e combater. Que se recolheu a chorar as mazelas de umas eleições que aconteceram há dois anos.
Chegámos aqui porque o líder não soube sair. O PSD não será um partido da oposição amanhã, mas também não o foi nos últimos dois anos. Nos últimos dois anos, o PSD foi um partido carpideiro com medo de dizer a Passos que não podia ficar. Por isso venha Rio e veremos ao que vem.