Conta-nos o jornal “Público” que o empresário Joe Berardo fechou ilegalmente um terraço e várias varandas do seu apartamento na Infante Santo, que ocupa todo o último andar do prédio, para instalar um WC de luxo com vista para o Palácio das Necessidades. Um vizinho fez uma queixa em tribunal e oito anos depois ganhou a causa em primeira instância, sendo o Comendador condenado a demolir tudo, repondo a configuração original.

Recurso atrás de recurso, perdendo sempre, o Comendador e o seu WC chegaram ao Tribunal Constitucional. Aí argumentou que “todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto”; o Tribunal respondeu que sim, mas cumprindo a Lei. Portanto, em mais dois anos o assunto foi encerrado. Só que sete meses depois, se alguma coisa foi demolida, foi uma saboneteira.

Nada. Rien. Niente. Sprechen sie deutsch. Fez o homem bem? Tinha o direito de construir a casa de banho? Vamos ver a questão com calma e frieza.

Primeiro, acho genial uma casa de banho com vista para o Palácio das Necessidades. Imagino a ironia da coisa e o seu sorriso nos seus lábios de estar sentado, rolo de papel higiénico na mão, a olhar para o Palácio da Necessidades. Das necessidades, capiche? Imagino quantos tipos não pagariam para o poder fazer. Um dia ele ainda vai fazer um novo Museu Berardo ali, com mobiliário da Joana Vasconcelos forrado a edições diversas do Diário da República, e ganhar mais umas massas com a coisa.

Segundo, ele é criticado por a casa de banho ter dimensões épicas – um terraço e várias varandas. Mas o Comendador é um grande homem, merece uma grande casa de banho. É o bastante, mas se mais fora necessário, é consultar as “5 Reasons Every Man Needs A Big Boy Toilet”:

1) o assento deve ser elevado, pois só nos sentimos confortáveis se não estivermos apertados e torcidos, com risco de cãibras, além de que com a idade fica mais fácil erguermo-nos de uma posição alta;

2) deve permitir uma posição alongada, com espaço, para podermos esticar-nos, faz-nos sentir como um príncipe;

3) deve poder descarregar um balde de bolas de golfe. O golfe é o vício dos homens de negócios de sucesso, e porquê tê-lo só em espaços abertos? Porque não na intimidade da sua casa de banho, onde os outros não se podem rir das suas más tacadas? E se, depois de uns vidros partidos na vizinhança, a polícia lhe bater à porta às tantas, com um mandado de busca, pode ser útil ter onde se livrar de um balde de bolas de golfe;

4) pode, porque tem espaço, ter uma tampa de fecho com amortecedor, para não apanhar um susto desnecessário com o barulho da tampa que cai;

5) a casa de um homem é o seu castelo, e nela ele é um rei. Logo, onde há um rei, tem que haver um trono. E uma ampla vista aberta sobre o Palácio das Necessidades até dá um ar nobre à coisa.