[weglot_switcher]

Ongoing. Rafael Mora denunciou Nuno Vasconcellos à PGR em 2018

O ex-administrador da Ongoing, ex-vice-presidente da Ongoing Strategy e ex-administrador da RS Holding e antigo sócio de Nuno Vasconcellos na Heidrick and Struggles, Rafael Mora apontou todas as culpas da falência da Ongoing ao ex-sócio.
  • Rafael Luís Mora, sócio de Nuno Vasconcelos (ausente na foto), durante a sua audição perante a Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, na Assembleia da República, em Lisboa, 09 de junho de 2021. ANTÓNIO COTRIM/LUSA
9 Junho 2021, 11h52

O ex-administrador da Ongoing, ex-vice-presidente da Ongoing Strategy e ex-administrador da RS Holding e antigo sócio de Nuno Vasconcellos na Heidrick and Struggles, Rafael Mora, esteve a ser questionado no Parlamento sobre a Ongoing que deixou uma dívida de mais de 500 milhões de euros do grupo que ficou por pagar ao Novo Banco.

Ao longo da audição, o ex-braço direito de Nuno Vasconcellos com quem entrou em ruptura em 2015, apontou o dedo ao ex-dono da Ongoing. Rafael Mora diz que  “foi tudo kafkiano”.

Rafael Mora começa por esclarecer que não foi sócio de Nuno Vasconcellos na Ongoing, mas apenas na Heidrick and Struggles, consultora de recursos humanos, que depois foi integrada no grupo Ongoing.

Numa clara demonstração de “divórcio” com Nuno Vasconcellos, Rafael Mora que foi chief operating officer (COO) da Ongoing, aproveitou as perguntas dos deputados para criticar o ex-sócio.

Rafael Mora reconheceu ainda que é sócio (com 1 real) de uma sociedade no Brasil detida pela Ongoing (a HIS Brasil) e que deteve uma participação minoritária numa empresa de Delware, a Webspectator (que está sob processo judicial nos EUA).

Apesar de ter sido administrador executivo da Ongoing até 2015, diz que “nunca teve responsabilidades  financeiras”. Diz que era administrador com o pelouro operacional e a partir de 2012, com as áreas da tecnologia.

Fez questão de frisar que o pelouro financeiro e a ligação ao BES, foi sempre exercida pessoalmente por Nuno Vasconcellos, e até pela família Rocha dos Santos. “Mas não quero que pensem que estou a fugir às respostas”, disse.

Rafael Mora que foi vice-presidente da Ongoing Strategy, que detinha a Ongoing Media e que por sua vez tinha o Diário Económico, deixou de ser administrador do grupo em janeiro de 2015 em rota de colisão com Nuno Vasconcellos. Rafael Mora seguiu sendo administrador da PT SGPS (atual Pharol) até 2017.

O ex-administrador executivo da Ongoing disse que em 2012 deixou de ter a responsabilidade da parte de media e que ficou com a parte da tecnologia, ou seja com uma empresa brasileira chamada Real Time Corporation.  A contratação de Silva Carvalho, ex-“secretas”, também terá criado divergências, segundo o relato do inquirido, entre si e Nuno Vasconcellos. Rafael Mora diz que não queria trabalhar com Silva Carvalho e por isso escolheram áreas diferentes, tendo Silva Carvalho ficado com media e Mora com a tecnologia.

Rafael Mora relata a dívida do grupo Ongoing, onde tinha o pelouro da gestão estratégica. A saber: 200 milhões de euros de financiamento do BES para comprar 2% da Portugal Telecom; 24 milhões de euros de financiamento do BES para comprar a empresa que tinha o Diário e Semanário Económico; 80 milhões de financiamento do BES para a compra do grupo de media no Brasil que era 70% da ex-mulher de Nuno Vasconcelllos, Maria Alexandra Mascarenhas, à data do divórcio (o que preocupou Rafael Mora); e 100 milhões de euros de financiamento do BES para grupo tecnológico (onde Mora diz que era responsável a partir de 2012), ou seja a Real Time Corporation “que era sociedade anónima e passou a responsabilidade limitada”, segundo disse.

“Eu era e não renego que fui um dos melhores amigos de Nuno Vasconcellos, podia ser visto como um rato que saiu do barco antes de afundar”, confessou Rafael Mora.

Um projeto de poder?

Depois da compra do Diário Económico por 27,5 milhões de euros com 24 milhões com financiamento do BES, Rafael Mora considerou que “a media foi o princípio do fim”, mas atribui o afundamento da Ongoing, não à compra do Diário Económico e Semanário Económico por aquele valor, mas à “estupidez” que foi Nuno Vasconcellos ter tentado controlar o capital da dona do Expresso, porque Balsemão “é um inimigo poderoso”. A Ongoing chegou a ter 23% da Impresa. Era um projeto de poder?  Pergunta o deputado do PSD, Hugo Carneiro. Mas Mora que considerou um erro a Ongoing ter tentado controlar o Expresso por causa do “poder” do emblemático empresário de media, Francisco Pinto Balsemão, não confirma que o Grupo de que era COO (responsável pela estratégia) fosse um projecto de poder.

“Acho que a decisão foi influenciada diretamente por Ricardo Salgado”, apontou o ex-sócio e ex-braço direito de Nuno Vasconcellos que baseia esta convicção numa alegada mudança editorial das notícias do Expresso e a reestruturação posterior da dívida da Impresa feita pelo BES.

E havia muitas pessoas da Maçonaria na estrutura, pergunta o PSD. “Não posso responder, mas que havia muitos maçons havia”.

Rafael Mora fez queixa de Vasconcellos na PGR em 2018

A Real Time Corporation “foi para o buraco” ou, melhor, corrige Mora, “foi para o Panamá”.

Rafael Mora anuncia que em junho de 2018 apresentou uma denúncia contra Nuno Vasconcellos na Procuradoria Geral da República. A PGR informa que este processo se encontra em investigação na PJ. “O processo corre no DIAP de Lisboa Norte”.

O motivo da denúncia, segundo Mora, foi um desvio de participações de empresas para uma sociedade no Panamá (Affera). “Não foram aumentos de capital, foram desvios”, disse.

A Affera é uma sociedade que é protagonista da denúncia, e está ligada a uma sociedade offshore no Panamá. Mora diz agora que as “tropelias” de Vasconcellos começaram antes da Affera, com a transferência de ativos de Portugal para o Brasil.

Rafael Mora disse ainda, que o Novo Banco teve oportunidade de recuperar algum valor na HIS mas não o quis fazer. Mas Vítor Fernandes, agora responsável do Banco de Fomento, disse que “o banco estava tranquilo com a gestão do acionista”. Foi em 2015, passado um ano a empresa estava falida.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.