São estonteantes as circunvoluções, os volteios e rodeios, com que se pretende explicar a situação política em Itália, o Brexit, a eleição de Trump, e tutti quanti apareça que bata de frente com as certezas axiomáticas do neoliberalismo e do fim da história, com o capitalismo, doxa para uns, santo graal para outros!

São os populismos. É a subida da extrema-direita, dos (neo)fascismos. São as derrocadas da social-democracia e dos seus partidos. É a desadequação, não aggiornamento dos partidos tradicionais. É a «maluqueira» do Trump. São (novamente) os russos (parece que sem “comunismo”) e às vezes os chineses. É esta coisa esquisita de que os Estados, as grandes potências, da «Civilização Ocidental», santos sepulcros da democracia, observadores NATO e natos da legitimidade das eleições nos países atrasados e suspeitos de infidelidades democráticas, terem agora as suas próprias eleições perturbadas, violadas, decididas pelos russos, via o instrumental de poderosas multinacionais nascidas e mantidas nos EUA! Escândalo! Foi assim que terá acontecido o Brexit, a eleição do Trump, as perdas da democracia cristã de Merkel, o tufão do Macron, varrendo PSF e a direita gaullista, de Chirac e Sarkozy, e etc. É a globalização. São as novas tecnologias. É pau é pedra, são as águas da crise do capitalismo, atrapalhando o caminho…

E quando tudo parecia estar a ser resolvido na UE e na Zona Euro, Brexit quase digerido; ingleses fora, muito cá por dentro; depois da digestão difícil da Grécia; de Portugal com uma estranha governança, suportada por radicais de esquerda; ultrapassada a histérica da Le Pen, por um fiel europeísta; vencidas (mas não convencidas com mais uma cambalhota social-democrata e subida ao céu da extrema direita) as eleições alemãs; os refugiados entregues aos turcos e uma rasteira animação económica, os italianos resolvem estragar tudo…

Pela competição aguda e brutal do capital transnacional e financeiro. Que estrebucham e não gostam de quem lhes faz frente. Com expressão no movimento das placas tectónicas da geopolítica, onde as principais potências capitalistas fazem torsões e movimentos como o funâmbulo na corda. Procuram a salvação no seu equilíbrio e no desequilíbrio das potências opositoras. Isto é, só não as atiram abaixo da corda se não puderem… sacudindo-as para o vazio…Uma crise na UE (e na Zona Euro), cantada construção do sistema capitalista, que agora é sacudida por erupções e abalos telúricos político-económicos, e sociais e culturais. A crise italiana (como o Brexit, e etc…) é só mais um epifenómeno da crise da UE e da Zona Euro! E não vai lá com aspirina…

Esta gente é tal e qual um desenho animado! O herói ou o vilão, já não tem terreno, solo, soalho, degrau debaixo dos pés….Só quando olha para o abismo é que se precipita…fiuuuuuuuuuuuuu… Puum! Som onomatopeico à escolha. O pequeno problema é que costumam arrastar-nos com eles… para o abismo.