Olhando para as estabelecidas alternativas a Costa, e para as que vêm a caminho, não conseguimos com seriedade encontrar quem mobilize e lidere o espaço do centro-direita com base de apoio, carisma e eficácia suficientes para se poder voltar a falar em vitória nesta conjuntura.

As vitórias, à direita de Costa, serão dos ganhos ou perdas relativos de cada um dos quatro líderes que irão a jogo. A verdadeira vitória, que seria uma maioria destas forças sobre a esquerda e a extrema-esquerda, parece não mobilizar o conjunto destes protagonistas, condenando o país a mais tempo de estagnação económica e fractura social.

Tal como no século XX Portugal encontrou o seu próprio tipo de ditadura no corporativismo de Salazar, no século XXI, o país encontra o seu próprio modelo de populismo na geringonça de Costa. A falta de alternativas credíveis a este regime alicerçado na demagogia e na satisfação avulsa de diferentes clientelas, deixa Costa animado para a execução do plano que o poderá levar, com riscos claros, à maioria absoluta.

Costa levou a cabo a penúltima fase desta “operação maioria absoluta”. Como aqui escrevi há algum tempo, Costa acumulou e juntou as más notícias todas este Verão, contando com a tradicional memória curta do eleitor. Aguentou ministros politicamente mortos, fez-se ele próprio de morto quando foi conveniente, driblou os parceiros de geringonça e amorteceu, com a ajuda de Rio, o impacto negativo das suas más políticas.

A partir de agora, a história é outra. O Orçamento do Estado (OE) é claramente o mais malabarista, em termos de ilusão do eleitor e satisfação da demagogia dos três sócios da geringonça. É uma manobra eleitoralista com limitações, fruto das necessidades aritméticas da sua aprovação, mas ainda contemporiza com dois ou três foguetes de pólvora seca para Catarina e Jerónimo, enquanto dota Costa de instrumentos para gerir a ilusão de melhorias que não chegarão de facto.

Tratado o Orçamento, onde a operação maioria absoluta ganha corpo real é na remodelação do passado fim-de-semana. É nisto que Costa não falha. Deixou Azeredo em penosa putrefacção pública, até ao momento em que uma remodelação alargada lhe fosse conveniente. Num fim-de-semana crucial, véspera de apresentação do OE, e com uma ameaça de furacão a calhar, cai Azeredo e caem todos os rostos dos ministérios que fustigaram os portugueses nos últimos anos, à excepção do intocável Vieira da Silva.

Os ministros caídos eram, de facto, todos maus, muito maus; principalmente por executarem as políticas do Governo, que, por acaso, é presidido por Costa. A Saúde chegou ao pior estado de que há memória desde o 25 de Abril por culpa de Costa e a pedido de Centeno. A Cultura foi uma ausência e um desnorte porque não teve dinheiro, nem direcção política, porque Costa nunca quis. A Economia foi absolutamente desprezada, vivendo do que sobrou do governo anterior, porque Costa não tem visão, vive da sobrevivência diária, não quer, nem sabe projectar o país no médio e longo prazo. A vergonha de Tancos exigia acção logo no início, sem esquecer respeito pelas instituições, que Costa despreza.

No fim despedem-se os ministros que são a cara do falhanço de Costa, inventando um novo ciclo virtuoso em período de eleições. Habilidade é coisa que não falta a Costa. O mérito, ainda assim, é relativo, dado ser o único com olho em terra de cegos. Com o Orçamento no bolso e a remodelação na praça pública, teremos um ano de ilusionismo garantido, a última fase da operação em curso, isto é, a busca da maioria absoluta por todos os meios possíveis.

Resta uma interrogação. Sou dos que sempre acreditaram que Costa preferiria a geringonça à maioria absoluta. O arranjo permitiu governar à vontade, e o preço a pagar pelo recato sindical, pela calma dos indignados e tranquilidade da rua, foi um preço pesado para o país, mas perfeitamente aceitável para Costa. Estaremos perante mais um caso em que a ambição tolda o pragmatismo? Não o esperaria em Costa, mas assim parece, a avaliar por todos os sinais.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.