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Operadoras de telecomunicações lamentam “indústria deflacionária” e dividem-se na necessidade de consolidação

Em relação à entrada da Digi no mercado português, o CEO da NOS alertou que “um quarto operador, provavelmente, vai agravar de forma dramática a cobertura de custos de capital” e a CEO da Altice Portugal garantiu que a empresa “respeita todos os novos entrantes”. Luís Lopes, CEO da Vodafone Portugal, diz que complexidade no processo de aquisição da Nowo “não tem explicação”.
15 Maio 2024, 18h27

As três principais operadoras de telecomunicações em Portugal alertaram esta quarta-feira para os problemas de rentabilidade do sector, que prejudicam a atração de investimento estrangeiro.

A CEO da Altice Portugal considera que o país tem “desafios acrescidos” pela sua dimensão, recusando-se a comentar a operação de venda da empresa, que está em curso, e optando por fazer referência a operações de concentração internacionais, entre as quais a da Más Móvil com a Orange ou a Swisscom e Vodafone Itália.

Ana Figueiredo diz que a Europa, e Portugal em particular, está mais preocupada com a promoção da entrada de novos players no mercado em vez da qualidade de serviço e aposta em tecnologias como a cloud e a Inteligência Artificial (IA). Portanto, “está a perder competitividade económica”.

“A perda de rentabilidade traz maior dificuldade de acesso a investimento”, alertou a CEO da Altice Portugal, no 33º congresso da APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações.

É nesse contexto que as telecom têm “sido uma indústria deflacionária”, marcada pela perda de receitas e, simultaneamente, continuação de inovação do ponto de vista de serviços, cobertura de banda larga, etc. Portanto, obrigado à otimização da estrutura de custos, esclareceu Ana Figueiredo.

“A Europa, como um todo, tem estado a perder competitividade significativa para economias como os Estados Unidos e a China. Recentemente, foi um publicado um relatório da Comissão Europeia sobre as comunicações eletrónica na competitividade da União Europeia (UE) e um dos problemas que a UE sofre é a falta de escala. Temo que, sem escala, haja pouca atratividade para fazer investimentos”, comentou o CEO da Vodafone Portugal, na mesma linha de pensamento.

Instigado a comentar como é que a Vodafone não consegue comprar uma empresa com 2% de quota de mercado (Nowo), Luís Lopes foi pragmático: “Não tem explicação”. “Uma aquisição destas em Portugal é vista do ponto de vista concorrencial maior do que em Espanha”, lamentou Luís Lopes, no debate “Estado da Nação das Comunicações”.

Questionados sobre a entrada da Digi, que acontecerá este ano, Ana Figueiredo garantiu: “Respeitamos todos os novos entrantes. Não sabemos qual será o seu posicionamento, embora tenhamos uma ideia consoante o que faz noutros mercados”, no painel moderado pelo publisher do jornal online “Eco”, António Costa.

Já o CEO da NOS foi mais além: “Um quarto operador, provavelmente, vai agravar de forma dramática a cobertura de custos de capital”. Miguel Almeida destacou o mesmo white paper europeu no qual se concluiu que as políticas de promoção de novos entrantes, inclusive em Portugal, são um erro sob pena de o sector ser insustentável.

Na sua opinião, este relatório foi uma tomada de consciência da UE sobre dois pontos: a essencialidade das infraestruturas e o facto de que o retorno sobre os capitais que não cobre o custo de capital, “o que torna impossível atrair investimento privado”.

Miguel Almeida, cuja empresa apresentou ontem lucros de mais de 67 milhões de euros, disse também que discorda da declaração da presidente da Anacom a propósito da perceção de falta de transparência ao nível dos pacotes dos serviços e pediu para se “criar mais condições, ou até incentivar, à consolidação”.

Por outro lado, Luís Lopes, rementendo para o caso da aquisição que a Vodafone Portugal está a tentar concluir, retorquiu  que um plano de negócio que passe por consolidação pode ter “dificuldades”, discordando de Miguel Almeida. Quanto ao novo Governo, vê como “uma oportunidade de olhar para um sector que na última década teve os problemas” supramencionados.

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