A transição energética está a resultar numa profunda transformação de todo o setor elétrico, e a comercialização não é exceção. Para os comercializadores de energia, este processo apresenta desafios significativos, mas também oportunidades de negócio e diferenciação através de serviços inovadores.

A relação simples de comercialização e oferta de tarifário é algo do passado, as empresas comercializadoras que queiram competir nos mercados atuais devem procurar diferenciar-se pelos serviços prestados e pela atenção dada à realidade de cada cliente.

Neste contexto, o consumidor assume um papel mais central, tornando-se mais ativo, informado e exigente.  Está mais atento à origem da energia que consome e preocupa-se com a eficiência e a transparência dos serviços prestados pelos comercializadores. Como exemplo desta nova tendência, os consumidores querem participar ativamente em comunidades energéticas, otimizar o autoconsumo e reduzir a sua pegada de carbono.

A clareza da informação presente na faturação, o acesso a dados de consumo mais detalhados e realistas que tornam possível escolher tarifas flexíveis ou de energia 100% renovável tornaram-se alguns dos elementos diferenciadores no mercado. Com a crescente penetração de energias renováveis intermitentes, como solar e eólica, a volatilidade do mercado é um fator que ganha cada vez mais relevância.

Tarifários dinâmicos indexados ao mercado grossista e modelos que incentivem o consumo fora das horas de pico podem reduzir custos e oferecer benefícios financeiros para ambas as partes, consumidores e comercializadores. Além disso, os consumidores estão também a tornar-se produtores, com sistemas de autoconsumo fotovoltaico e armazenamento, o que cria oportunidades para os comercializadores, que podem oferecer tarifários de injeção na rede e soluções que otimizem a gestão entre a energia produzida e consumida.

O surgimento das comunidades de energia, reforça ainda mais esta descentralização do setor. A gestão eficiente dessas redes, através da partilha da eletricidade produzida localmente, representa um novo modelo de negócio para os comercializadores, que podem atuar como facilitadores deste ecossistema.

Paralelamente, o crescimento da mobilidade elétrica abre novas oportunidades, permitindo a criação de tarifários específicos para carregamento dos veículos elétricos e a integração do carregamento bidirecional (V2G-Vehicle to Grid), onde os consumidores podem não só consumir, mas também vender eletricidade à rede.

Uma outra tendência relevante, neste caso no consumo empresarial, é o aumento da procura de soluções de compensação de emissões e mercados secundários de energia. Muitas empresas com metas de sustentabilidades ambiciosas recorrem à comercialização de créditos de carbono e ajustes de consumo, onde os comercializadores podem atuar como intermediários, oferecendo serviços de compensação de emissões e gestão de desvios energéticos.

A transição energética está a redefinir o papel dos comercializadores, que deixam de ser apenas fornecedores de energia para se tornarem em prestadores de serviços energéticos integrados. A capacidade de inovar, adaptar modelos de negócio e explorar novas oportunidades proporcionadas pela crescente adoção de tecnologias será determinante para definir os comercializadores que prosperarão neste novo paradigma.

O futuro da comercialização passa pela personalização, complementaridade de serviços que beneficiem da sua ligação próxima aos clientes, digitalização e compromisso com a sustentabilidade, garantindo que o setor energético se torne mais eficiente, transparente e acessível a todos. O consumidor está no centro desta transformação e, com o seu poder de escolha e influência crescente, será um fator determinante para o sucesso dos comercializadores que se souberem responder de forma inovadora e eficaz às suas necessidades.