É verdade que a actual conjuntura apresenta algumas dificuldades, mas não podem ser exageradas. Se é verdade que vivemos com a inflação mais elevada dos últimos 30 anos, não é menos certo que o desemprego está nos valores mais baixos das duas décadas precedentes.

Outros problemas actuais são obra dos governos socialistas. Se se tivessem prosseguido as reformas do tempo da “troika”, poderíamos ter hoje uma taxa de crescimento potencial superior, o que permitiria salários superiores, taxas de imposto inferiores e contas públicas mais sãs. Se não se tivesse aplicado as 35 horas na função pública nem descido o investimento público para níveis abaixo do período de ajustamento (a redução do investimento público nos últimos sete anos corresponde a quase metade do Plano de Recuperação e Resiliência – PRR), os serviços públicos não estariam à beira do colapso como estão. Se não se tivesse revertido a privatização da TAP não teríamos malbaratado 3,2 mil milhões de euros e mais um longuíssimo se…

Para além disso, estes governos têm falhado nas questões mais elementares. Foram lançados vários programas de habitação e nem 10% foram cumpridos; há uma chuva de dinheiro de Bruxelas, sob a forma PRR, e os atrasos na sua execução acumulam-se sem explicação; havia PPP na saúde com bons resultados médicos e que poupavam dinheiro ao Estado e foram substituídas pelo caos; há dezenas de milhares de alunos que continuam sem ter todos os professores; e mais um interminável etc.

Como se tudo isto não fosse suficiente, o Governo de maioria absoluta especializou-se em recrutar pessoas com os cadastros mais inacreditáveis, numa sucessão de tiros no pé que desafiam o melhor ortopedista político. Finalmente, quando o problema da corrupção e a inoperância da justiça irritam cada vez mais eleitores, o PS consegue a proeza de nunca se ter demarcado dos governos de Sócrates e dos seus principais protagonistas.

Em suma, se vivemos tempos difíceis, muitas das dificuldades resultam de escolhas políticas lamentáveis, incapacidade de gestão básica e ética mais do que questionável.

Face a isto, as oposições tinham a obrigação de esmagar o Governo nas sondagens. Em vez disso, registam intenções de voto muito fracas. Alguns dirigentes parece que nem estão a fazer o trabalho de casa, à espera de que o governo lhes caia no colo. O Presidente da República já avisou que 2023 era um teste decisivo para o executivo, pelo que é razoável esperar eleições antecipadas em 2024, por demasiadas razões. Ou seja, a oposição nem sequer tem a desculpa de ter muito tempo para se preparar para governar.

Nem venham com a desculpa de o Governo controlar a comunicação social, porque não só isso não é verdade para todos os órgãos desta, como há múltiplas alternativas, como as redes sociais. Exponham os problemas do Governo, preparem-se a sério e sejam mais profissionais na comunicação.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.