La situation est grave mais pas desespérée, título do filme de Jacques Besnard, aplica-se como uma luva ao atual momento que a França atravessa. Depois da queda do governo de Barnier, cuja estratégia para lidar com a difícil situação orçamental francesa não passou no Parlamento, ainda Macron mal tinha nomeado Bayrou para primeiro-ministro – o quarto este ano – e já a Moody’s fazia o downgrade da dívida pública da França para Aa3, ou seja, apagava o fogo com gasolina.
Isto implica que o custo de financiamento da dívida francesa aumente por via dos juros, quando se projeta já que o défice orçamental exceda este ano os 6% do PIB, mais do dobro do teto fixado no Pacto de Estabilidade e Crescimento. Mais, a dívida pública da França, que atinge 112% do PIB, está também perigosamente perto do dobro do limite estabelecido no Pacto. Ora, o orçamento proposto por Barnier para fazer face a este estado de coisas foi reprovado por extrema-esquerda e extrema-direita, e precipitou a queda do governo.
A tarefa de Bayrou não é fácil, e resta ver até onde Macron, cuja taxa de aprovação caiu para 22%, consegue manter-se à tona de água. Vai ser preciso tomar medidas difíceis para restaurar a sustentabilidade das finanças públicas francesas: mesmo endurecendo a política económica, o défice orçamental não voltará a ficar abaixo dos 3% antes de 2029. O serviço da dívida, que ultrapassará este ano os 2% do PIB (poderá exceder o orçamento da Defesa), aumentará até 3,7% do PIB em 2032, e a dívida pública também deverá aumentar até 117% do PlB em 2027. Mas mesmo este cenário está posto em causa, agora que o governo caiu. Vamos ver que coelho Bayrou vai tirar da cartola.
Para a União são péssimas notícias, pois também o governo alemão caiu esta semana. Temos, portanto, os dois maiores países da União em plena crise política e a entrarem em 2025 sem orçamento, a Alemanha com eleições em fevereiro. Os problemas de governação são de monta. Aliás, a Moody’s desceu o rating da dívida francesa com a fragmentação política perante a necessidade de tomar medida de consolidação das finanças públicas como principal argumento.
E tudo isto quando a guerra na Ucrânia está numa fase critica e ninguém sabe o que Trump vai fazer em janeiro, quando assumir a presidência americana – um corte no apoio americano à Ucrânia significa a necessidade de um maior esforço europeu, o que neste quadro não parece fácil. Primeira lição: se há fragmentação política, é bom ter as finanças públicas em ordem.