“Small is beautiful”, ou assim dizia E. F. Schumacher num livro que no próximo ano terá meio século de existência. Esse livro continha diversos avisos sobre os problemas ecológicos trazidos pela forma de organizar a actividade económica que continuam a ser relevantes.
A tendência neste meio século, todavia, tem sido na direcção da criação de sistemas produtivos de cada vez maior dimensão, em cadeias de abastecimento de cada vez maior alcance geográfico. A mensagem fundamental do livro, contudo, não era apenas a necessidade de sistemas produtivos de menor dimensão, mas também organizar os sistemas de maior dimensão de modo a que funcionem como uma articulação de unidades mais pequenas com alguma autonomia na sua gestão e monitorização. Sem essa gestão e monitorização a nível mais local, não temos uma noção adequada das implicações ecológicas e sociais das cadeias de abastecimento que nos fornecem variados bens e serviços.
Mesmo quando se procura quantificar esses custos ecológicos e sociais, a métrica utilizada para o efeito procura captar as nossas preferências subjectivas, tal como se imagina serem reveladas nos preços de mercado. Ou no caso dos bens e serviços (ainda) não mercantilizados, a métrica baseia-se em avaliações contingentes destinadas a encontrar qual seria o preço que expressaria as nossas preferências subjectivas se houvesse um mercado para esse bem ou serviço.
O problema é que mesmo que o mercado sistematizasse adequadamente informação dispersa, reflectindo as nossas preferências subjectivas, os sistemas biofísicos que suportam a vida não funcionam de acordo com as nossas preferências subjectivas. E nem mesmo o desenvolvimento humano é adequadamente captado por essa via, dado depender de processos biológicos e sociais mais objectivos.
Num mundo em que a informação é cada vez mais abundante, percebe-se que se procurem métricas para tentar monitorizar, compreender, e até prever ou controlar (quando se acredita que tal é possível) a realidade. Índices de desenvolvimento humano, de desenvolvimento sustentável, da pegada ecológica (ou pegada material, ou pegada de carbono), todos procuram uma quantificação que vá além da mera subjectividade supostamente expressa pelos preços de mercado, e que procure quantificar os problemas económicos, sociais e ambientais de forma multidimensional.
São passos importantes. Mas a realidade é demasiado complexa para conseguirmos construir indicadores sintéticos que realmente captem toda a sua multidimensionalidade, e Schumacher continua a ter razão. Não parece haver solução adequada para os problemas anunciados há meio século por Schumacher e outros da sua geração sem ter também uma avaliação mais local das consequências dos sistemas produtivos nas capacidades regenerativas de sistemas ecológicos e sociais, avaliação essa acompanhada por debate democrático local nas comunidades mais directamente afectadas, que têm acesso à informação de forma verdadeiramente multidimensional, tal como se expressa na vivência diária dos sistemas económicos, sociais e ecológicos, e suas propriedades regenerativas.
Até poderíamos tentar voltar ao “normal” após a crise actual nas cadeias de abastecimento. Mas mesmo que a geopolítica o permitisse, esse “normal” nunca foi sustentável, e não constitui uma solução viável no longo prazo.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.