Sei que vou gerar um enorme coro de protestos, mas eu não acredito na versão de que banqueiros como Jardim Gonçalves, Ricardo Salgado ou João Rendeiro são malfeitores, e até acho que a solução encontrada para resolver os problemas de bancos como o Millennium bcp, o antigo BES ou o BPP, não foi a melhor para o país. Mas eu explico.
A crise financeira que rebentou em 2008 foi o mais grave abalo do sistema financeiro desde a Grande Depressão de 1929. Um daqueles momentos que ficará para sempre gravado na história e que, pelas suas proporções, teve efeitos devastadores, exigindo, por isso, medidas excepcionais.
Um pouco por todo o mundo, a chamada Grande Recessão abalou bancos, exigiu apoios e subsídios para evitar o pânico e o risco sistémico, como aconteceu em Espanha, Portugal e na Irlanda, a nacionalização de instituições, no Reino Unido e em Portugal, o desaparecimento de alguns players e o redesenho profundo dos sistemas bancários em alguns países, como em Portugal e Espanha.
Portugal, Portugal, Portugal. Três vezes Portugal, em qualquer das situações, aferindo o enorme estrondo que a crise teve no nosso país.
A debacle dos bancos nacionais foi devido à crise (ninguém ouse duvidar) e a um modelo de negócio suportado no crédito facilitado por taxas de juro baixas, credit scorings falíveis, produtos financeiros complexos e muita alavancagem de balanços. Em Portugal, como no resto do mundo.
Em Portugal, como no resto mundo, a gestão aventureira dos bancos foi questionada, os modelos de negócio corrigidos, a análise de risco de crédito melhorada e a supervisão reforçada.
Em Portugal, como no resto do mundo, os bancos mais pequenos e que não geravam risco sistémico desapareceram do mapa, falidos ou engolidos pelos grandes. Com a bênção do Banco Central Europeu e da sua filial nacional, o Banco de Portugal.
Em Portugal, como no resto do mundo, foi preciso o Estado injectar fundos públicos que lhe tinham sido cedidos na troika, para resgatar bancos, como aconteceu na Caixa Geral de Depósitos, Millennium bcp e BPI, só para falar dos sobreviventes maiores.
E o BES? Porque não teve o BES, quando precisou, mais tarde, o mesmo tratamento preferencial que foi dado aos outros grandes bancos do sistema? Esta é a grande questão. A pergunta de um milhão de dólares.
Na resposta, que fica agendada para daqui a 15 dias, estão as verdadeiras responsabilidades de Ricardo Salgado e o BES. Para já, ficam duas palavras que dão título a esta coluna: Orgulho e Preconceito.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.