Os portugueses nunca foram muito dados a uma autoestima elevada, preferindo o velho fado da cultura do nacional-pessimismo, alavancado por uma forte sensação de que o que vem do exterior é que é bom.

Mas esta ideia de remoer as coisas más e não enaltecer as boas, não se pense que é das últimas gerações, quiçá, esteja alicerçado nos tempos do entreposto e Feitoria de São Jorge da Mina (finais do séc. XV), em que holandeses e flamengos, passavam a perna” à nossa burguesia.

Vem isto a propósito daquilo que todos os dias vemos e assistimos em todos os canais de televisão, do sublinhado negativo que a pandemia tem significado para a economia e para o emprego (desemprego).

Obviamente que não se deve esconder a situação difícil que o nosso país atravessa, com a queda da riqueza nacional, encerramento de fábricas e serviços e o consequente aumento do desemprego. Nada disto se deve escamotear dos portugueses, todos devem saber o que se passa na realidade.

No entanto, o que está a acontecer em Portugal tem um espelho e, nalguns casos, bem maior, em várias latitudes europeias, e não vejo na imprensa espanhola (em que a dimensão do rombo é bem maior que em Portugal), na imprensa francesa ou italiana, o exacerbar e o sublinhado dramático diário que a imprensa portuguesa confere a esta situação.

Não há dia em que as televisões portuguesas não empreguem expressões, como “queda histórica do PIB”, “queda abrupta da economia”, “aumento brutal do desemprego”, “ainda virão tempos bem piores”, etc.

Ora, tudo isto é de facto verdade e por essa razão é que a Comissão Europeia, no passado dia 21 de Julho, chegou a acordo e aprovou um plano de recuperação e um pacote de auxílio às economias de todos os países da União, no valor de 750 mil milhões de euros.

Tudo isto é evidente.

Por outro lado, é sabido que o factor psicológico e o sentimento de confiança dos cidadãos assenta, muitas vezes, na forma como a informação é “servida” e percebida por estes. Ora, num país intrinsecamente pessimista, estar todos os dias a assistir a estes bombardeamentos de múltiplos lados, acaba por contribuir para uma sensação ainda pior do que na realidade ela se configura.

De nada serve estarem sempre a sublinhar com frases fortes a situação difícil que atravessamos. Todos os portugueses sabem que a situação é difícil! E que ainda levará algum tempo até nos recompormos (em termos sanitários e económicos), mas moderar a forma como a situação é apresentada diariamente é ajudar o país e os portugueses.

Sabemos que quanto mais alarmante é uma notícia, mais capta as atenções dos espectadores, mas numa situação grave como aquela que vivemos, deveria haver mais cuidado e sensibilidade por parte dos directores de informação, por forma a não contribuírem ainda mais para um sentimento de depressão que já se apoderou de muitos portugueses.

Seria sensato, mostraria inteligência e diminuiria o consumo de fármacos antidepressivos!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.