Em paralelo com o período de veraneio que vivemos, os canais de denúncia são, de forma crescente, o “hot topic” na esfera do Compliance. Já os encontramos nos websites das empresas, já ouvimos sobre o tema num podcast e já os conhecemos num flyer que caiu na nossa caixa de e-mail. Mas o que diz a sua implementação sobre a temperatura ambiente de uma organização?

A ferramenta – Canal de Denúncias – é o contributo material para uma cultura de impacto positivo, transparência e bem-estar no seio da Organização, afastando da esfera mediática os temas sobre os quais queremos ser os primeiros conhecedores (e, se possível, os únicos).

O inbox pode não responsabilizar a Empresa pelo sucedido, contudo, responsabiliza-a perante os seus Colaboradores, os quais se sentem robustecidos pela conformidade emanada e, embora sem rosto na participação de uma denúncia, compreendidos e enumerados na adoção de ferramentas ao serviço do meio ambiente, numa relação win-win. A firmeza na adoção de medidas preventivas, corretivas e mitigadoras de conformidade colocará a organização num caminho sem retorno, observável pelos demais.

Ultrapassadas as questões legais de forma e âmbito, regressam as questões de premência e atualidade. Qual a melhor solução a adotar? Como assumir o canal de denúncias como um requisito ético? Porque queremos ser os primeiros a conhecer as nossas irregularidades?

A jornada de prevenção da corrupção posicionará a Organização no elevado nível dos cumpridores e não se extingue em “mínimos legais”. O compromisso é tão essencial quanto virado para dentro, na efetivação da confidencialidade, integridade, transparência e na proibição da retaliação.

Num mundo incendiado, os fatores diferenciadores serão cada vez mais escassos, pelo que o aprimorar de uma Organização envolvida, participativa e comprometida com o outro, é essencial. No fim do dia (ou no sunset), o denunciante pode ser o nosso colaborador sem voz mas com teclado, empenhado em defender, em anónimo, os interesses de toda a comunidade laboral; é nesse momento que o investimento tem retorno e que o custo não existe.

Aguardar pelo sensacionalismo da esfera mediática para alavancar a tarefa será adiar uma fatalidade e adensar o risco inerente. Cumpre a cada Organização, com mais de 50 colaboradores, analisar, configurar e publicar o seu Canal de Denúncias que, embora possa ser adquirido, será sempre próprio (e, de preferência, personalizado). É também crítico refletir sobre a solução tecnológica, a marca de água da Organização, não confundível, na esfera do utilizador, com um qualquer Canal de Denúncias externo ou genérico.

Na certeza de que a adoção destas soluções pelas Organizações é tão inevitável quanto o próximo solstício de inverno, urge surpreender as Empresas com relatórios de impacto positivo, relegando para segundo plano a obrigatoriedade, ao jeito de “tem que ter”. A inversão do ónus colocará no centro da problemática a revisão de políticas e procedimentos internos, o reposicionamento de conformidade e a robustez perante os demais stakeholders.

Através de um qualquer ponto com acesso à Internet, o rodapé do seu website falará por si, mas não deixará transparecer por completo a sua Cultura. A questão radica no quão morno o estado de conformidade legal de uma Organização tem de estar para ignorar o aumento da temperatura coerciva. Aproveito aqui para lembrar que, julho de 2023, foi o mês mais quente desde que há registo.