“Não podemos evitar o combate mas podemos escolher o campo”. 

House of Cards

 

(O tradicional ponto prévio. Perante inúmeros comentários vergonhosos, as mais das vezes a coberto do anonimato, imputando ao seu pai a “desgraça” de ter uma filha como ela, Isabel Moreira viu-se na contingência de ter de explicar o óbvio, designadamente que ter um pai, quem quer que ele seja, não afecta a capacidade de pensar pela própria cabeça e que os afectos familiares não se medem pelos acenos de concordância. Tenho discordado muito da Isabel mas, quanto a este ponto, a minha solidariedade – e, até, exacta compreensão do absurdo fenómeno com que se depara – é total. Também aqui há uma linha no combate, mesmo quando se trata de confronto de ideias, que não se deve (nunca) ultrapassar. Não é por se ser filho de alguém conhecido que se perde o direito a expressar opiniões. Mesmo quando estão erradas. Uma vez postas as coisas nestes termos, é evidente de que lado da barricada devemos estar.)

É sabido que os CTT apresentaram um “plano de reestruturação”, expressão em voga para significar despedimentos em massa, alegadamente para fazer frente à queda no tráfego do correio. Essa soit-disant estratégia inclui fechar (mais…) vinte e dois balcões de norte a sul do país e eliminar mil postos de trabalho até 2020, através de pretensas revogações de contratos de trabalho.

No mesmo transe que somos confrontados com estas intenções, ou seja e mais concretamente, com, pelo menos, mais mil pessoas a passarem a auferir prestações de desemprego, graças ao dito “plano”, é também notícia a particular circunstância de a mesma empresa ter decidido dar o dobro do lucro em dividendos. Ou seja, já não lhes bastava colocarem todos os portugueses a subsidiar as consequências das suas invocadas estratégias, face a um resultado líquido positivo de 27,3 milhões de euros em 2017, que caiu 56,1% em relação a 2016, o dividendo proposto pelos CTT corresponde a um pagamento total de 57 milhões de euros, isto é, um payout de 208,8%. Dito de outra forma, os senhores accionistas, cujas valências até agora conhecidas se limitam a despedimentos, pagam-se e pagam-se bem.

Os chacais estão, como se sabe, em todo o lado, procurando as fragilidades das vítimas e fazendo disso vida. À semelhança da Altice mas passando pelos da Gramax, isto é, da Triumph, do que se trata é de sugar tudo quanto há até ao fim e deixar os portugueses com os restos, a sarar feridas e a pagar pelas “altas estratégias”.

E, também aqui, há uma linha. A pergunta não é, portanto, quando é que vai acontecer o desmantelamento dos nossos CTT. A pergunta é o que cada um de nós fez para o evitar.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.