Por todo o mundo, e por muitos pontos de Portugal, há monumentos e toponímia em homenagem aos diferentes combatentes, que em diferentes guerras deram o melhor de si pela pátria, tantas vezes, a própria vida. O fenómeno da guerra defensiva liga-se ao longo dos tempos a uma forte ideia de patriotismo. O soldado é por natureza alguém pronto a lutar e morrer pela pátria. Tal condição, independentemente de ser ou não voluntária, é premissa de coragem e heroicidade.
Os Combatentes portugueses da Guerra do Ultramar, nas suas diferentes frentes, foram homens de enorme coragem e heroicidade. Com risco de vida, a maior parte das vezes distantes das suas famílias, entregaram anos da sua vida à defesa de Portugal, que à altura era uno do Minho a Timor. Aos combatentes não cabe a decisão da guerra ou das fronteiras da nação, apenas o cumprimento da missão que esta implica.
Portugal tem uma dívida de gratidão com todos os combatentes sua longa história. De Ourique ao Ultramar, a História e as diferentes dimensões de Portugal foram sempre garantidas por combatentes valorosos. As diferentes mudanças territoriais, as poucas derrotas, foram sempre fruto de decisões políticas, nunca podendo ser imputadas ao soldado português.
Em boa hora, o Porto, através de uma iniciativa de cidadãos, mas com o apoio da Câmara Municipal, decidiu homenagear com dignidade e perenidade os nossos Combatentes do Ultramar. Foi mais um compromisso de Rui Rio, que Rui Moreira teve a capacidade cumprir. É um acto de justiça que só enobrece os seus promotores e a Cidade. O novo Memorial terá lugar numa praça dedicada em Lordelo do Ouro, ao lado da Capela do Senhor e Senhora da Ajuda, sendo o projecto do Arquitecto Rodrigo Brito. Será um espaço de evocação da memória daqueles que se entregaram para que pudéssemos ser quem somos.
Fiquei completamente atónito, ao tomar conhecimento da celeuma levantada em Reunião de Câmara sobre este Memorial. Diz o Partido Comunista, acompanhado por parte dos Socialistas da Vereação, que não aceita que o Memorial seja dedicado aos Combatentes do Ultramar, que se deveria dedicar aos “povos vítimas da guerra colonial”. O Bloco de Esquerda, não tendo votos suficientes na Invicta para figurar na Vereação, vocifera no mesmo sentido no seu site, através de um “académico activista”.
Na visão maniqueísta da esquerda radical, cada Combatente é um actor involuntário numa de opressão e racismo, sendo também uma vítima no quadro alargado sem direito a distinção. A manipulação de Louçã sobre o horror do Holodomor, as afirmações de Rosas sobre militares portugueses, dizem tudo sobre o papel reservado à honestidade por aquelas bandas.
Subjacente a este esquema mental profundamente distorcido, está a ideia de negação da Portugalidade ao longo da História, está a intolerável desonestidade da omissão de que os Combatentes defendiam todos os portugueses, independentemente da sua origem, das forças de guerrilha que os matavam sem piedade. Sim, houve muitas vítimas, portugueses de todas as origens, na Guerra do Ultramar. O agressor esteve sempre apoiado, formado e municiado por países terceiros, matando população portuguesa defendida por Combatentes portugueses. Estes são os factos. Falo deles sem complexos, porque acredito que as antigas Províncias Ultramarinas teriam merecido a independência justa e tranquila que o Estado Novo lhes negou e que a Democracia não foi capaz de lhes dar.
Posso de alguma forma entender a falta de apreço, mesmo o desprezo, de forças políticas de raiz totalitária e dogmática face à tradição das Forças Armadas de Portugal. Quando as suas referências militares e de acção armada passam por bolcheviques, pelos Khmer Rouge, pelos batalhões de Mao ou pelas tropas cubanas que massacraram angolanos sem dó, nem piedade, compreende-se que tenham dificuldade na interpretação do corpo militar de uma nação antiga como a nossa, obediente à lei e ao poder político, garante de uma ideia superior de pátria onde todos têm lugar.
Não, os Combatentes do Ultramar, como os outros Combatentes Portugueses, não são susceptíveis de interpretação e caracterização ao abrigo dos princípios que orientaram os diferentes exércitos que impuseram, perpetuaram e expandiram as diferentes ditaduras comunistas que enegreceram o último século. A história das Forças Armadas Portuguesas é radicalmente diferente da história do Exército Vermelho, pelos melhores motivos.
Felizmente, vivemos em democracia. Em democracia, a polémica é sempre permitida, independentemente da razoabilidade e decência dos argumentos. Em democracia, a maioria decide e, para já, no Porto, não anda ao sabor de revisionismos radicais, não divide artificialmente a sociedade, mantendo a coragem de saber homenagear aqueles em quem confiámos e não nos traíram.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.