Os últimos dias foram marcados pela apresentação de resultados pelo Banco BPI, Caixa Geral de Depósitos, Millennium BCP e Santander. Todos apresentaram resultados muito positivos, o que muito nos satisfaz, como é evidente.

Tem razão o presidente da comissão executiva da CGD, Paulo Macedo, quando se queixa de que lhe está a ser imposta a emissão de dívida, a colocar nos mercados de capitais, quando o banco não precisa, em termos económicos, nem de liquidez nem de reforçar os rácios de capital.

Tem razão o presidente da comissão executiva do Banco BPI, Pablo Forero, quando comenta, de forma muito polida, o facto bizarro de o multibanco ser gratuito, ao arrepio do que acontece noutros países, ou de o processo de alienação da posição accionista do BPI em Angola ser uma certeza, conquanto de prazo ainda incerto. Nada cobrar por serviços que custam dinheiro, ou sair de mercados lucrativos, por imposição do BCE, só fragiliza os bancos a operar e a investir em Portugal.

Tem razão o presidente da comissão executiva do BCP, Miguel Maya, quando diz, de forma muito vocal, que o Fundo de Resolução deveria ser financiado por uma taxa sobre as transacções financeiras a suportar por todas as instituições financeiras que operam com clientes residentes em Portugal. Isso asseguraria um level playing field justo, não penalizando apenas aqueles que têm um compromisso com Portugal.

Todos fizeram uma antevisão sobre os desafios do futuro próximo, que o sector enfrenta, e sobre os quais tenho escrito de forma abundante nesta coluna.

Todos poderiam ter falado ainda mais e melhor sobre o longo ciclo económico expansionista em Portugal e nos nossos principais mercados. Ou nos novos investimentos públicos ou concessionados (aeroporto e ferrovia) e privados (reabilitação urbana), cuja dimensão e ocorrência têm vindo a abrir um mar de oportunidades a empresas relacionadas e de suporte, com isso dando fôlego acrescido aos bancos. Poderiam ter falado, igualmente, da subida de rating de vários bancos (CGD, Novo Banco, Santander e BCP).

Talvez tenha sido intencional esta quase omissão de oportunidades. Isto porque o processo negocial sobre o Acordo Colectivo de Trabalho (ACT) no sector está a progredir muito lentamente. Talvez porque queiram impor acordos colectivos minimalistas, como que fazendo um favor aos movimentos radicais que querem destruir a ordem social vigente.

É um sinal dos tempos, muito sintomático, que nas conferências de imprensa de apresentação dos resultados tivessem que responder a perguntas inéditas sobre a possibilidade de uma greve na banca.

Os sindicatos subscritores do ACT não permitirão que triunfem os radicais. Tanto os que querem promover um empobrecimento dos bancários como os que querem impor um mundo bafiento e ditatorial. Dure o tempo que durar, esta nossa luta. Alea iacta est. Os dados estão lançados.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.