Portugal é talvez o único país do mundo em que, neste ano de 2020, o próprio líder da Oposição propõe uma redução significativa do número de debates parlamentares com a presença do primeiro-ministro. Tal como muitos analistas, um alienígena que acabasse de aterrar e lesse estas linhas pensaria que Rui Rio quis fazer o jeito ao Governo e, ao mesmo tempo, ter a vida facilitada se um dia chegar ao poder. As coisas serão, no entanto, um pouco mais complexas do que isso.

Já todos percebemos, alguns há muitos anos, que o líder do PSD não atribui grande importância aos debates no Parlamento. De igual modo – e as duas coisas estão ligadas –, Rio não valoriza o papel da imprensa numa sociedade democrática. Para o líder social-democrata, o jornalismo é um ofício subalterno que, quando bem desempenhado, consiste em servir de pau de microfone e em publicar fielmente os ditados dos poderosos. Dos “seus” deputados Rio não espera algo de muito diferente.

Porém, o líder do PSD tem razão quando afirma que, da forma como têm decorrido, os debates quinzenais não contribuem para a credibilização da política. Sejamos honestos: haverá alguém que realmente se sinta mais esclarecido depois de assistir a um debate quinzenal?

O problema é que acabar com os debates quinzenais sem os substituir por um modelo mais eficaz – menos longo e com um número limitado de questões, por exemplo – não terá como efeito elevar o nível das discussões parlamentares. Irá simplesmente reduzir o número de debates, retirar visibilidade aos partidos pequenos (em especial os que fazem sombra ao PSD), enfraquecer o Parlamento e empobrecer a democracia, ao diminuir o número de vezes em que o primeiro ministro é obrigado a prestar contas aos deputados eleitos pelos portugueses.

Se Rio quer realmente voltar a ter “grandes debates” e contribuir para a elevação da atividade parlamentar, poderia começar por dar o exemplo, alterando a forma como são escolhidos os deputados do seu próprio partido. Se a política continuar a não ser capaz de atrair os melhores, não será o número de debates que vai fazer a diferença.