Quando sairemos desta crise provocada pela pandemia? Esta é a pergunta que todos fazemos mas para a qual a resposta se apresenta cada vez mais desafiante. Na passada semana, o Fundo Monetário Internacional anunciou a previsão de uma queda de 10% do PIB português em 2020, agravando em dois pontos percentuais as previsões anteriores para Portugal, feitas em abril. Este é um valor acima da queda de 8,5% inscrita no âmbito da proposta do Orçamento do Estado para 2021. Por outro lado, segundo as Previsões Económicas Mundiais, a recuperação para 2021 no valor de 6,5% é superior aos 5,4% antecipados pelo Governo.

No fundo, a dúvida mantém-se sobre se assistiremos a um cenário de recuperação em V e há quem mantenha que as cicatrizes da crise perdurarão por vários anos. “Está assegurado que será uma lenta recuperação”, escrevem os economistas Juan Carlos Conesa, Gonzalo Fernández de Córdoba e Tim Kehoe no último ‘Boletim da crise do coronavírus’ da Fedea, uma instituição espanhola que pesquisa, divulga e influencia a formulação de políticas públicas. “Mesmo supondo que uma vacina eficaz seja encontrada e disponível em tempo recorde, a recessão durou tempo suficiente para ter efeitos duradouros, descartando a esperança de uma recuperação em V”, observam os autores, citados pelo ‘El Confidencial’.

A questão é que os surtos da Covid 19 estão a contrariar os comportamentos observados em outras crises sanitárias anteriores. E a continuar esta situação extingue-se a previsão dos analistas mais confiantes numa rápida recuperação com forte crescimento em 2021 e em que exista uma queda acentuada do PIB, mas uma recuperação precoce e forte. A crise atual é muito mais grave e tem um impacto global, a data para a disponibilização efetiva e generalizada de uma ou mais vacinas é ainda uma incógnita e cada vez mais empresas, comerciantes e famílias entram em dificuldades.

Face a isto, não se pode descartar o processo de destruição do tecido produtivo devido ao encerramento generalizado das empresas. Essa é também uma das grandes preocupações do FMI que recomenda aos Governos que continuem a assegurar a liquidez do sistema empresarial. Será, no entanto, preciso bem mais do que isso para amortizar os custos de transição elevadíssimos para a economia pós-crise pandémica. E será indispensável um grande investimento público em formação e em apoios e benefícios sociais.

“Qualquer conjunto de medidas de política económica terá que enfrentar dois desafios, o da viabilidade fiscal e o da realocação de recursos”, escrevem os economistas Conesa, Fernández de Córdoba e Kehoe. Com efeito, como demonstram os autores, uma mais rápida realocação de recursos para os setores mais fortes acelerará a recuperação, mas terá custos sociais mais elevados. Pelo contrário, todas as medidas destinadas a proteger os setores em declínio evitarão que se multipliquem os despedimentos, mas terão um custo elevado em termos fiscais e de crescimento.

A crise de hoje é a anedota de amanhã, escreveu H.G.Wells. Neste caso, a sua máxima não se aplica de todo. Não temos nenhuma razão para rir agora. Nem viremos a ter no futuro, quando finalmente pudermos olhar para trás com alívio.

 

Este fim de semana terá lugar o Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1, com uma lotação máxima de 27.500 espetadores no Autódromo Internacional do Algarve. Este evento é um pequeno sopro de movimento num Algarve onde as dormidas de não-residentes caíram quase 80%. Recorde-se que há 24 anos que uma corrida de Fórmula 1 não acontecia em Portugal.

 

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