Está a decorrer o anual fórum económico em Davos, que reúne as figuras mais influentes no mundo para discutir o estado atual e as preocupações da economia global.
Os últimos anos têm ficado marcados por crises de saúde publica, guerras ou pela inflação, que trazem consigo alterações às sociedades, sentidas nas alterações de sentido de voto nas principais democracias. A desigualdade continua a aumentar, uma vez que a evolução é mais rápida, mas principalmente porque não são proporcionados meios à população para aprender a pensar e a escolher. A tomada de decisão financeira tem impactos sociais, familiares, ou na saúde, e a ausência da aprendizagem neste capítulo contribui para aumentar as desigualdades.
Este ano, para além das alterações climáticas e dos conflitos regionais, os bancos centrais voltam a desempenhar um papel fundamental. A economia mundial está cada vez mais frágil, pelos conflitos geoestratégicos, incertezas nas cadeias de abastecimento, desglobalização ao nível do comércio mundial, aumento do custo de vida e desaceleração do crescimento.
Esta semana Christine Lagarde veio acalmar os ânimos de descida dos juros nas próximas reuniões do BCE, reiterando que o principal foco é a inflação, não obstante a trajetória descendente. Os mercados estavam a antecipar uma redução de juros até aos 2,5% até final de 2024, o que apenas será possível se a economia entrar em forte recessão.
O BCE quer garantir que os aumentos salariais são contidos e que os efeitos secundários da inflação deixam de contagiar o ciclo de subida de preços perpétuo. E entende-se o porquê. É que uma redução da inflação não deixa de ser uma subida de preços, mas a um ritmo menor. Ou seja, enquanto os preços estiverem a subir estamos todos a viver pior, e existe a pressão para as empresas aumentarem salários, mesmo aquelas que não têm condições, ditando assim a falência de muitas empresas num futuro próximo.
Por outro lado, os vários blocos económicos pretendem garantir mais autonomia nas suas próprias cadeias de abastecimento, o que significa produzirem mais em quase todos os segmentos e reduzirem a incerteza, derivada de conflitos, que impeça a importação de bens essenciais às suas populações.
Embora a curto prazo este seja um factor inflacionista, todos querem aumentar a autossuficiência e, ao mesmo tempo, a médio prazo, teremos um problema em virtude do excesso de oferta no mundo. Essa será uma fase perigosa, uma vez que quando o mundo estabilizar, as empresas tenderão a reduzir preços para poder vender, mas, entretanto, os custos fixos, com salários ou fornecedores, aumentaram.
Os desafios de Davos estão num mundo perigoso, de navegação difícil, que continua suportado no aumento do endividamento dos países. Neste contexto, a direção dos juros é crucial para as decisões económicas e políticas que serão tomadas em 2024.