Um grupo de 42 grandes empresas a operar em Portugal formou uma nova associação, denominada Business Roundtable Portugal (BRP), que foi esta semana apresentada publicamente. A nova associação tem como objetivo propor medidas que contribuam para o crescimento económico sustentável do país e é liderada por Vasco de Mello e conta com personalidades como Cláudia Azevedo, António Rios Amorim, Nuno Amado e João Castelo Branco, entre outras.

A iniciativa é louvável, porque tudo o que contribua para o crescimento da nossa economia, para mais em moldes sustentáveis do ponto de vista social e ambiental, será positivo. Portugal não pode resignar-se a permanecer mais 20 anos na cauda da Europa em termos de crescimento económico, sob pena de o nosso modo de vida se tornar insustentável e de regredirmos como país, condenando as gerações futuras à pobreza e à emigração. Há que criar condições para que o país possa crescer, sem esquecer que quem cria riqueza não é o Estado ou a ‘bazuca’ europeia, mas os cidadãos e as empresas.

Porém, serão os líderes das 42 maiores empresas a operar em Portugal as pessoas mais indicadas para propor essas medidas? Sem colocar em causa as boas intenções, a competência, a noção de serviço público e o patriotismo das pessoas em questão, creio que o grupo tem três desafios pela frente que ditarão se cumprirá ou não a sua missão.

O primeiro tem a ver com a necessidade de clarificar a missão do BRP. A nova associação diz que não visa defender os interesses dos grupos que a compõem, mas sim propor medidas “a pensar em Portugal”. Porém, ninguém acredita que uma associação criada e financiada pelos 42 maiores grupos venha a propor medidas contrárias aos interesses dos seus associados, por exemplo em áreas como a fiscalidade. Seria preferível que a nova associação se assumisse abertamente como um grupo que defende os interesses das grandes empresas e a sua visão para o conjunto do país, que é tão legítima como a de qualquer outra corrente ou quadrante da sociedade portuguesa. Sem deixar de admitir que, embora o crescimento seja um desígnio nacional, os interesses das grandes empresas não se confundem com os do país, ou sequer com os das outras empresas.

O segundo desafio da BRP é tornar-se mais inclusiva e representativa, de maneira a poder apresentar soluções adequadas à realidade do país, mantendo ao mesmo tempo uma linha de atuação que a distinga da CIP e de outras confederações empresariais.

A BRP deixa de fora a esmagadora maioria do tecido empresarial nacional, com o argumento de que as 42 grandes empresas estarão mais habilitadas para propor soluções em três áreas – Pessoas, Empresas e Estado -, podendo servir de campos de teste para as medidas propostas. Porém, as grandes empresas não são as únicas a inovar, a internacionalizar-se, a apostar na qualificação ou a conhecer a fundo os problemas do aparelho do Estado. Há PME que têm muito a ensinar às grandes empresas nestes domínios. E os seus líderes são obrigados a enfrentar diariamente muitos problemas que, nos seus gabinetes confortáveis, os gestores do PSI20 nem sonham existir.

O terceiro desafio passa por garantir a eficácia da atuação da nova associação e vai além da questão óbvia de conseguir que, de facto, os associados se comprometam com o projeto e o façam avançar. É sobretudo um desafio político: independentemente do mérito das propostas, o problema da falta de crescimento económico não poderá ser resolvido pelos empresários, grandes ou pequenos, mas sim pelos governantes eleitos pelo povo, que são quem poderá fazer com que as reformas necessárias se tornem realidade. E qualquer Governo terá dificuldade em adotar propostas que sejam publicamente apresentadas pelas grandes empresas. Esperemos, porém, que o interesse nacional prevaleça sobre a demagogia reinante.