Com a situação diretiva a caminhar na direção da normalidade institucional, os atuais desafios da comissão de gestão passam por criar níveis de liquidez adequados às necessidades e exigências de um clube com a dimensão do Sporting.

O cenário atual configura uma situação de pré-incumprimento para com os stakeholders do clube, funcionários, fornecedores e banca, sendo imperativo que o clube obtenha uma almofada de liquidez de 22 milhões de euros, para poder fazer face às responsabilidades operacionais e financeiras até às eleições agendadas para o dia 6 de setembro.

O Sporting SAD encontra-se numa situação de falência técnica com Capitais Próprios negativos de nove milhões de euros, decorrentes da saída de um conjunto expressivo de jogadores.

Em março de 2018, as suas responsabilidades perante o sistema bancário atingiam os 237 milhões de euros, sendo que grande parte do seu endividamento, aproximadamente 130 milhões de euros, está relacionado com os VMOC (valores imobiliários obrigatoriamente convertíveis), e o remanescente dividido entre empréstimos bancários e um empréstimo obrigacionista de 30 milhões de euros, cujo pagamento foi adiado seis meses para novembro 2018, devido à turbulência que o clube atravessou e à incapacidade em montar a operação de rollover da dívida de uma forma credível para os investidores.

Com a saída de nove jogadores relevantes do plantel, avaliados a preços de mercado em 150 milhões de euros, com a indisponibilidade dos principais bancos para aumentar os empréstimos ao clube – agravada pelo novo regulamento interno do Millennium BCP, que determina o fim da concessão de empréstimos a clubes de futebol –, com as linhas de crédito esgotadas e uma posição de caixa inferior a um milhão de euros, manifestamente insuficiente para suportar as responsabilidades mensais médias de 11 milhões de euros, a única solução plausível passa pela capacidade de negociar com os clubes adquirentes dos jogadores que rescindiram unilateralmente os contratos de trabalho com o Sporting, sendo os casos mais relevantes o Wolverhampton de Rui Patrício e o Inter de Milão, que manifestou o seu interesse em William Carvalho.

Ainda que os valores a receber venham a ser inferiores aos valores de mercados, 16 e 25 milhões de euros respetivamente, o Sporting apresenta uma vantagem negocial, nomeadamente as perspetivas de um litígio judicial que se arraste no tempo com as consequências reputacionais daí decorrentes, e um resultado potencialmente desfavorável, quer para os atletas envolvidos, quer para os clubes que adquiram os seus direitos desportivos, o que faz com que um entendimento seja o caminho economicamente mais vantajoso para todas as partes.

Assim, uma alienação de atletas por valores aceitáveis, com uma taxa de desconto entre 30% e 50% em relação aos valores de mercado, permitiria a manutenção da atividade operacional do Sporting e reforçaria a credibilidade do clube junto dos seus parceiros de negócio.

Deste modo, a nova ronda de negociações que deverá decorrer no último trimestre do ano poderia ser encarada de uma forma mais tranquila, com o Sporting a avançar mais rapidamente no caminho da sua recuperação e continuando a assumir um papel relevo na sociedade portuguesa.