“O navegador pessimista queixa-se do vento, o otimista espera que o vento mude, e o realista ajusta as velas do barco” – William Arthur Ward

O Partido Socialista saiu vencedor das últimas eleições legislativas, mas sem maioria, o que significa que o eleitorado não leu os últimos anos de governação com a exuberância que o aparelho e o seu candidato o entenderam enquanto sucesso, sobretudo o sucesso económico.

Na realidade, se há um grande mérito na governação da coligação de esquerda, vulgo geringonça, foi o de esconder o agravamento da austeridade, tornando-a menos visível para os eleitores, ao mesmo tempo que construiu uma estratégia de comunicação alicerçada numa narrativa anti austeridade que permitiu a António Costa vencer as legislativas pela primeira vez.

Na verdade, ao PS bastou-lhe amarrar a extrema-esquerda no Parlamento a um acordo de poder, que amarrou também o país no que diz respeito à estagnação de reformas estruturais, e criar esta ilusão do fim da austeridade apenas possível à conta de uma combinação prodigiosa de taxas de juro extraordinariamente baixas, do ciclo económico internacional e de um ímpeto específico de alguns sectores como o turismo.

A margem criada por esta combinação e pela austeridade silenciosa permitiu o cumprimento mínimo das obrigações do país perante os parceiros europeus e fez com que as principais agências internacionais retirassem Portugal dos ratings de “lixo”. Mas o compromisso político com o futuro foi a grande vítima, e o sucesso da fórmula económica é, quanto muito, um milagre frágil.

Mas para esta vitória terá também contribuído uma falha de fiscalização política dos principais partidos da oposição. As últimas semanas de campanha mostraram que, quando foram colocadas a nu as muitas fragilidades do governo de esquerda, Costa tremeu. O que mostra que se começou tarde a fazer oposição. E estes são os desafios imediatos para o centro-direita.

A nível económico, as reformas no sentido do aumento da competitividade foi uma variável ignorada, e as próximas gerações são uma variável fora das equações da esquerda, que parece mais concentrada em “empreitadas disruptivas” ideológicas do que em construir equilíbrios económicos e sociais que criem esperança para uma melhor qualidade de vida nas próximas gerações.

Por último, temos ainda a degradação de situações ligadas à transparência e conflito de interesses, que têm sido a marca de água polémica deste executivo, e a acentuada degradação dos serviços públicos (como a saúde) e do efeito de valor obtido pelos nossos impostos enquanto contribuintes.

O desafio do novo governo é saber que acabou o argumento da reversão, e que o país precisa de ter um plano para lidar com uma nova crise ou recessão internacional. Andar nos pingos da chuva não é estratégia que dure sempre – e dificilmente conseguirá repetir os equilíbrios políticos para tal. Isto significa que o maior desafio é o da oposição do centro-direita.

Há que entender que a política mudou e que a oposição deve ser feita de forma mais próxima e contundente. O sucesso de novos partidos como o Iniciativa Liberal mostram que é possível fazer isso de forma esclarecida, comunicar de forma assertiva e inovadora.

Adicionalmente, é necessário olhar para temas políticos que vão estar na agenda nos próximos anos, e onde falta uma posição responsável por parte também de partidos da dimensão do PSD, como é o caso evidente da economia verde (onde aliás o PSD tem um histórico valiosíssimo), ou de temas ainda pouco falados como dos impactes da automação no emprego, que poderá destruir centenas de milhares de postos de trabalho em Portugal nos próximos cinco a dez anos.

Importa por isso reposicionar e repensar a oposição, e saber trazer novas ideias e novas formas de fazer política para criar uma agenda que seja mobilizadora, não para o aparelho partidário mas para o país.