Estamos sob os efeitos de uma guerra que este continente não sentia desde 1945. Em todas as variáveis: militar, diplomática, energética, económica, todas elas penosas para os europeus que as sofrerão na pele em breve. Se voltássemos à “Guerra dos Tronos”, um dos seus mantras aplicar-se-ia agora: The Winter is coming.
Também com a ameaça velada que muitos auguram para tempos próximos, escritos nas estrelas entre a China e Taiwan, após a provocadora viagem de Nancy Pelosi àquela ilha, que não foi mais do que um acto livre mas insensato.
Nos EUA crescem os sinais de que Donald Trump (que será candidato e com perspectiva de ganhar em 2024) poderá ser acusado por envolvimento na invasão do Capitólio, o que levou a própria Fox News, baluarte do crescimento do “trumpismo”, a lançar o governador da Florida, Ron de Sanctis, como cavalo vencedor dos Republicanos para a Casa Branca.
Isto sem esquecer que um recente estudo de opinião evidenciava que metade dos americanos acredita que, em breve, poderá ocorrer uma guerra civil no país, fruto de uma sociedade profundamente dividida.
Na Ucrânia, por seu turno, onde Zelensky precisa de manter-se à tona comunicacionalmente, surgem declarações que lhe comprometem a coerência na imagem que construiu como paladino da liberdade desde o início do conflito.
Se a produção para a “Vogue” da sua mulher, uma arma de propaganda poderosa, já não foi bem acolhida em todas as chancelarias, agora, o pedido para se proibirem os russos de fazer turismo onde bem entenderem é tentar cercear liberdades, e isso é grave. O povo russo, a cultura russa, não têm culpa das decisões de Putin nem da sua invasão injustificada. Logo, o presidente ucraniano fica mal nesta fotografia.
Mas o que está a acontecer no Brasil toca-me muito. Pela paixão que tenho por aquela nação, pelo conhecimento que tenho da sua história e política, bem como da sua cultura. Se os EUA estão fragmentados, como já disse, ali passa-se o mesmo e com os mesmos laivos de gravidade.
Há uma clivagem completa, mesmo na música, entre os sertanejos e a MPB, por exemplo, que se repercute no clima denso desta corrida eleitoral de desfecho incerto e inseguro em Outubro. Não pelo resultado, pois apesar da vantagem nas sondagens ter vindo a minguar, a maior parte dos observadores crê na vitória de Lula. O problema é o dia seguinte. Como reagirá Bolsonaro e como reagirão as ruas se uma vitória da chapa Lula-Alckmin acontecer?
Lula esteve preso, mas foi o presidente da explosão do Brasil enquanto potência reconhecida em todo o globo. Com Bolsonaro, aquele país fabuloso diminuiu-se, apoucou-se, em virtude do seu líder ser visivelmente impreparado e não ter nenhuma linha de rumo nem estratégia, pois nem sabe o que isso é.
O retrato que traço com todos estes casos prova que vivemos num mundo perigoso e imprevisível, com líderes de fancaria e desequilibrados. Perante isto, fica a ideia de que os deuses devem estar loucos também.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.