1. Na mitologia grega há dois jovens heróis que dão pelo nome de Dióscoros e que estão associados a eventos épicos. Neste Governo também temos irmãos, mas dificilmente conseguirão feitos ímpares. Vem isto a propósito da junção de António Mendonça Mendes como novo Secretário de Estado do primeiro-ministro, com a sua irmã, Ana Catarina Mendes, nas reuniões de conselho de ministros, órgão de aprovação de medidas de gestão de atividade política do Governo. É preocupante.
Mais preocupante ainda porque António Costa tinha prometido não repetir os erros do passado, quando teve pai e filha em conselho de ministros, e quando teve marido e mulher em conselho de ministros, no caso, a família Vieira da Silva e a família Cabrita.
Por que razão António Costa fica agora reduzido a um núcleo familiar Mendonça Mendes? Que varinha mágica terá esta dupla que cresceu no seio da juventude socialista, foi dominando os órgãos partidários e depois foi subindo a pulso no parlamento e fora dele, já no Governo, sempre pela mão de António Costa?
Como secretário das Finanças, Mendonça Mendes não foi propriamente brilhante, apesar de não ter cometido erros como os antecessores à esquerda e à direita. Foi apenas sóbrio, tirando o ataque visceral que fez ao ministro da Economia, ficando-se a perceber que o ataque era do primeiro-ministro, que pretendia tão-só colocar o seu ministro da Economia na ordem, através de interposta pessoa. Esta terá sido a única vez que saiu do cinzentismo geral.
Por seu lado, Ana Catarina Mendes foi posta comentadora de TV, saindo do seu poiso no partido para o poiso do parlamento, onde, repetidas vezes, tem tido intervenções a roçar o patético, sobretudo quando entra em diálogo direto pelas bancadas parlamentares do Chega e da Iniciativa Liberal (IL). É a ascensão ao núcleo duríssimo do primeiro-ministro de dois apparatchik, sem carreira no setor privado, sem carreira académica, brindados apenas pelo seu fervoroso “costismo”.
António Costa está reduzido ao seu mínimo em apenas sete meses de maioria absoluta, com muito tempo de governo pela frente, com adversidades com o recrudescer da pandemia da Covid, laivos de autoritarismo um pouco por todo o lado, a guerra da Ucrânia para “lavar e durar”, as taxas de juro em subida acentuada e a crise energética a assustar tudo e todos.
Perante tudo isto, em vez de ir buscar os melhores, em vez dar espaço ao setor privado, às empresas e universidades, António Costa recorre – como ensinam os livros sobre os sovietes – ao partido, ao aparelho e à sua gente.
2. A direita parlamentar vai mexer. O aparelho do PSD já percebeu que Luís Montenegro não vai aguentar, não descola em termos de intenções de voto e muito menos em termos de galvanização por onde passa. O que a direção faz não chega para atingir uma maioria parlamentar. E a IL, com a nova liderança, tudo indica que será mais fraca relativamente à liderança de Cotrim Figueiredo, que ganhou carisma e presença, e tinha um discurso acessível e credível.
Quem sai beneficiado é o PS e o Chega, e para contrariar esta tendência a direita terá de se reorganizar. Ou o PSD se entende com uma aliança forte com o Chega, já que a IL terá sempre de dizer não ao Chega, ou o país terá muitos anos de PS com forte possibilidade de, em caso de necessidade, poder chamar o PCP e o Bloco para novas geringonças. Estes estarão disponíveis.