Quando era mais novo, as festas da espuma faziam a delícia dos adolescentes. Era um divertimento garantido, mas nada daquilo era muito a sério. Lembrei-me disto a propósito das declarações de alguns presidentes de bancos nas apresentações semestrais de resultados, anunciando o novo mantra: os próximos tempos vão ser difíceis na banca e por isso vai ser preciso cortar custos operativos.
Como quase sempre acontece, uma parte da argumentação tem algum fundamento, a outra nem tanto, mais ainda quando se olha para a realidade dos bancos a operar em Portugal e depois se observa também a dos nossos parceiros europeus. A esse propósito, a Associação Portuguesa de Bancos (APB), instituição representante das entidades patronais, não poderia ter sido mais elucidativa quando comparou, entre 2009 a 2019, a evolução da banca em Portugal com a da zona euro e de alguns dos seus principais mercados.
Os bancos a operar em Portugal reduziram a sua rede de balcões em quase 40%, um número em claro contraste com a redução de apenas 25% na zona euro. Não nos parece que os portugueses sejam mais nativos digitais do que noutros mercados. Portanto, de alguma forma, já contribuímos para o “peditório” da digitalização e do eventual papel menor que os balcões bancários irão, ou poderão, ter no futuro. A este propósito, já agora, não deixa de ser curioso que a Amazon e a Apple, expoentes máximos do mundo digital, invistam em redes de lojas físicas, em nome próprio, como que a dizer que o retalho está vivo e se recomenda. Curioso, não é verdade?
Os custos operacionais dos bancos em Portugal, quer em percentagem do activo, quer em proporção do resultado operativo, são menores do que os da zona euro. (E muito menores, por exemplo, do que os custos dos bancos alemães!).
Diz a APB que “desde 2015 os depósitos de clientes financiam a totalidade do crédito concedido em Portugal”. De igual modo, a partir do relatório da APB percebe-se que o stock de crédito à habitação tem crescido e passou a ter uma evolução positiva.
É óbvio que a perda de margem poderá continuar, fruto da intensificação das pressões concorrenciais e da ausência de rendibilidade dos passivos bancários. Felizmente, a descida das yields da dívida pública e a sua manutenção em níveis negativos continuarão a ajudar o sector bancário, de certo modo contrabalançando um efeito com o outro.
A perda de margem, importante que é, e será, não pode ser a canga para que os trabalhadores bancários venham a sofrer impactos negativos desproporcionais comparativamente às equipas de gestão e aos accionistas.
Diz ainda a APB que “o rácio de NPLs, apesar de permanecer num nível elevado, apresenta uma diminuição significativa desde o máximo atingido em Junho de 2016. Desde esse período, o montante registou uma redução de quase 24,6 mil milhões de euros”. Um valor que não é despiciendo.
Por isso, por estes dias, no meio de tanta espuma irrelevante, este mantra está a procurar testar as águas da opinião pública e dos sindicatos. Como que a ver se ‘pega’. Não pegará!
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.