Há muito que a continuidade de Mário Centeno no cargo de ministro das Finanças estava em risco e os acontecimentos desta semana confirmaram que o governante está a prazo, com saída prevista talvez para o próximo mês. O ponto fraco de Centeno é o facto de não ter peso político próprio, como se viu pelo facto de o PS não ter saído em sua defesa no caso da transferência para o Novo Banco.

Enquanto as coisas correram bem esta fragilidade passava despercebida, pois Centeno tinha a imagem de “Ronaldo das Finanças” e era um trunfo tanto para António Costa como para o PS, que lhe toleravam a aparente tendência para agir como se tivesse legitimidade eleitoral própria e não fizesse parte de um Governo. Porém, tal estado de coisas deixou de existir com a crise causada pela pandemia. O mundo mudou e com ele mudaram não só as prioridades como também a relação de forças entre António Costa e Mário Centeno.

Na Europa, a atuação de Centeno no Eurogrupo está a ser muito criticada, tanto nos setores mais “austeritários” como por pessoas como Yanis Varoufakis, que o apelidou de “coveiro do euro”, devido à pouca ambição vertida no plano do Eurogrupo para recuperar a economia. O “Frankfurter Allgemeine Zeitung” dá a saída deste órgão como certa.

Em Portugal, o ministro está debaixo de fogo devido à forma como geriu a recente transferência de 800 milhões de euros para o Novo Banco e, sobretudo, por ter desautorizado o primeiro-ministro em pleno Parlamento, ao dizer (com veracidade) que a decisão foi tomada em conselho de ministros.

O homem que até há pouco tempo era visto como vital para a credibilidade do país é agora um ministro a prazo, que arrisca sair pela porta pequena. É pena, pois Portugal fica a perder.