O local de trabalho (workplace) é hoje pensado e gerido por cada organização a um nível cada vez mais estratégico. O espaço físico é visto hoje como um agente de transmissão da cultura organizacional e o conforto e os serviços que lhes estão associados têm um papel vital na atração e retenção de talento. Querem-se hoje espaços de trabalho atrativos, flexíveis e que contribuam para o bem-estar dos colaboradores.
O desígnio da sociedade para a transição climática e para a descarbonização, sabendo-se que os edifícios são responsáveis por 40% do consumo de energia e 36% das emissões de gases com efeito de estufa na União Europeia, vem também trazer novos desafios aos edifícios, requerendo-se soluções de projeto e de construção cada vez mais sustentáveis e uma exploração dos edifícios cada vez mais eficiente e ajustada à sua utilização.
Os edifícios tornaram-se assim num ativo de grande importância na resposta aos desafios que enfrentamos hoje e que impactam o nosso futuro. No entanto, só com uma abordagem holística e integrada envolvendo todos os stakeholders e, simultaneamente, tirando partido da transformação digital e da evolução tecnológica, conseguiremos maximizar o valor dos edifícios para a sociedade.
Verifica-se que há um enorme gap entre todos os stakeholders participantes no ciclo de vida de um edifício, nomeadamente investidores, projetistas, construtores, empresa de manutenção. O BIM (Building Information Model), processo colaborativo que permite que diferentes stakeholders da fase de projeto e construção interajam num único modelo virtual em 3D do edifício, veio colmatar uma parte deste gap. Já é uma grande evolução, mas não chega.
Sabendo-se que por um lado mais de 85% dos custos do ciclo de vida de um edifício ocorrem na fase de exploração e por outro lado que é na fase de projeto e construção que mais se podem influenciar esses custos futuros, é essencial que este processo colaborativo comece a envolver também as entidades que gerem os edifícios tendo em conta que estas detêm um enorme conhecimento do real custo e impacto das soluções definidas inicialmente no comportamento futuro e na sua sustentabilidade.
Os grandes edifícios, particularmente não-residenciais, já são desde há muitos anos consideravelmente avançados, com gestões técnicas centralizadas onde estão espelhados todos os principais equipamentos e sistemas, permitindo monitorizar o seu funcionamento e atuar centralmente sobre eles sempre que necessário. Também as empresas que gerem estes edifícios, já são bastante evoluídas, com apps e softwares de gestão onde ficam registas todas as atividades de manutenção.
A Inteligência Artificial (IA) vem agora permitir transformar as enormes bases de dados destes softwares de manutenção em verdadeiro conhecimento. Neste momento temos já ferramentas de IA que leem o texto que é registado pelas equipas de campo nas diversas intervenções sobre os equipamentos, convertendo-o em ações standarizadas. Começamos também a cruzar estas informações com a monitorização em tempo real do comportamento do edifício – sensores de temperatura, pressão, vibração, ocupação, qualidade do ar – que hoje é possível com a Internet of Things (IoT).
O potencial destas ferramentas é enorme. Passaremos não só a gerir melhor os edifícios, de forma mais sustentável e focando no bem-estar das pessoas como também a ter um conhecimento e experiência que, se introduzidos nas fases projeto e construção, permitem maximizar a criação de valor.
Estamos claramente no caminho certo, mas há ainda um enorme trabalho a fazer, assim haja visão e vontade.