Quando a Revolução Francesa de 1789 despedaçou as ligações com o velho mundo absolutista na Europa e deu início a uma longa aventura de onde emergiram novos movimentos e ideais, não faltaram jovens intelectuais e revolucionários dispostos a sacrificar tudo para exprimir as suas convicções.

O séc. XIX começou com a derrota de Napoleão em Waterloo, dando rapidamente lugar ao reacionarismo das nações vitoriosas. Em 1848, uma onda revolucionária varre o continente europeu, instigada por uma população em busca de democracia, de liberdade política e de expressão.

Décadas depois, a comuna de Paris de 1871, onde durante alguns meses o proletariado tomou poder, fez ressurgir o interesse por um texto semi-esquecido de nome “O Manifesto Comunista”, que tinha sido redigido cerca de vinte anos antes por dois jovens filósofos alemães, exilados em Londres, de nome Karl Marx e Friedrich Engels.

Eram tempos, não de apatia, mas de ardor revolucionário, onde todas as possibilidades se colocavam, férteis, em cima da mesa e nada parecia fora do alcance. Nesta época decisiva, começa a materializar-se o capitalismo e a tomar forma a luta de classes, que viria a rasgar o tecido social e político da Europa por muitas décadas, numa interminável confrontação que põe a nu as crescentes desigualdades sociais e económicas. Curiosamente, a revolução que se iniciara em França não teve mais continuidade na Europa (mas teve de forma impactante em outros locais do globo).

Das sementes políticas lançadas no séc. XIX iria brotar o mapa geopolítico que conduziu a duas guerras mundiais, quebrando por completo o elo ao velho mundo e lançando a era moderna. Já não havia lugar para revolução, por entre os traumas de um continente devastado, com gerações de homens enterrados nos campos de batalha.

Décadas depois, e em pleno séc. XXI, com vários terramotos políticos a dominar o panorama global, as revoluções na Europa cederam a uma visão cínica, pessimista e quase fracassada. Aprisionados em bolhas ideológicas e de conhecimento, a sociedade rende-se à indiferença e, mesmo os mais politizados, mergulham num combate entrincheirado ideológico onde a informação e desinformação reinam, sem rédea firme. Grande parte da esquerda cedeu ao conformismo, abandonando uma via mais proativa, e embora tenha conseguido travar a perda de alguns direitos, não tem servido de barreira ao fortalecimento de políticas neoliberais.

Nos anos após a queda do muro de Berlim, Jacques Derrida concluíra em “Os Espetros de Marx” que era importante recuperar o espírito crítico revolucionário de Marx, e não tanto o programa político que dele emanara. De seguida lista as dez pragas do capitalismo como o desemprego, as guerras comerciais, a dívida, a exclusão de imigrantes ou a corrida às armas.

Vinte e cinco anos depois, esta realidade não mudou, tendo na verdade piorado. Podemos recuperar o espírito crítico apontado por Derrida, se começarmos por criar uma forte oposição ao sistema económico que serve de base à nossa sociedade, e assim propor uma alternativa mais sustentável que não esteja dependente do crescimento económico. Esse será, certamente, um dos desafios mais prementes das próximas décadas.