Passaram sete anos desde que o maior tsunami financeiro e político assolou Portugal, cujas consequências são ainda hoje incalculáveis.

O rasto de destruição financeira, económica e social vai permanecer durante longos anos, já que a acção lenta da justiça se irá encarregar de os recordar das perdas que ainda hoje são bem reais para milhares de investidores.

Nos Estados Unidos da América, o caso Madoff foi resolvido em pouco mais de um ano. Cerca de 70% dos créditos reconhecidos foram recuperados até janeiro de 2021 e a vida seguiu o seu rumo.

Em Portugal, seja pela lentidão da justiça, pela incapacidade na tomada de decisões políticas ou pela inaptidão dos próprios reguladores, não existe perspectiva de recuperação dos 4% dos activos sobrantes. As decisões são adiadas como se o tempo curasse tudo.

Neste caso o tempo não devolve as perdas que os investidores tiveram, e o foco nos lesados do BES, isto é, os investidores que tinham comprado obrigações do grupo, atirou todos os outros para o esquecimento.

Os obrigacionistas da Portugal Telecom, da Espírito Santo Financial Group (ESFG), continuam até hoje a lutar directamente, ou através de associações constituídas, nos tribunais do Luxemburgo, para poderem rever algum dinheiro dos investimentos que realizaram.

Um investidor não profissional, ou seja, que não é entendido em matérias financeiras e compra títulos, neste caso obrigações, com o seu investimento, está a financiar as empresas e, indirectamente, a economia portuguesa.

Ao confiar nas contas das empresas, seja pelos relatórios de auditores, seja por serem entidades reguladas e supervisionadas por diferentes reguladores, entende-se que as empresas têm condições mínimas para funcionar.

Não passa pela cabeça de ninguém que uma Portugal Telecom não tivesse robustez financeira, nem que não fosse suportar o investimento na infraestrutura tecnológica, cujo regulador deveria igualmente estar atento.

Em suma, um potencial investidor nunca irá olhar para as contas, mas sim para a actividade do dia-a-dia da empresa, que será o motor da confiança para investir.

A regulação não se deve cingir a uma fonte de regras e obstáculos ao desenvolvimento. Pelo contrário, deve primar pelo acompanhamento e evolução sectorial, por forma a assegurar a solidez e confiança nos sectores que regula.

As perdas dos investidores obrigacionistas da ESFG, que viram a companhia de seguros Tranquilidade, entretanto vendida por mais de 600 milhões de euros, expurgada da ESFG, continuam sem resposta.

Todos os eventos de crédito, fraude, inacção, têm consequência na capacidade de financiamento das empresas, que não conseguem ir ao mercado para se financiarem. A banca continuará a viver e a apoiar-se nesta fragilidade da economia em financiar-se e ganhar credibilidade junto dos esquecidos, leia-se os investidores com menos literacia financeira, mas com elevada capacidade de aforro e investimento.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.