O Plano Nacional de Gestão Integrada dos Fogos Rurais é uma jogada de alto risco político do ministro do Ambiente, Matos Fernandes. Pela primeira vez, a Floresta é assumida como um recurso natural de primeira grandeza ambiental e vital para o país.

Em consonância, a prevenção e combate aos fogos rurais passa a ser uma prioridade política estratégica e um desígnio governativo. É certo que depois de Pedrógão e com a vigilância permanente do Presidente da República nada podia continuar como dantes.

Talvez por isso, António Costa tenha retirado o pelouro das Florestas do Ministério da Agricultura, agora entregue a uma neófita e ilustre desconhecida, Maria do Céu Albuquerque, e o tenha colocado sob a alçada do Ambiente, na órbita do todo-poderoso ministro Matos Fernandes.

O documento não se limita a elencar alguns princípios teóricos e a alinhar outros programáticos, mas sem que aí se vislumbrasse qualquer hipótese de exequibilidade. Pelo contrário, as metas estão bem definidas e quantificadas. Desde logo, o financiamento que este plano estima que deve ser canalizado para a gestão florestal: 550 milhões de euros/ano até 2030. Ou seja, à volta de seis mil milhões de euros.

Mas mais, com este plano o Governo compromete-se a reduzir para metade a área ardia, qualquer coisa como 600 mil hectares. A ambição não tem limites e tudo é colocado ao serviço deste objetivo. Os proprietários privados serão chamados a gerir as suas terras de acordo com os critérios definidos. Se tal não acontecer, o Governo fará uso do arrendamento compulsivo – o que sempre tenho defendido.

Até as câmaras municipais, depois do puxão de orelhas do Tribunal de Contas, ao considerar ineficazes os planos municipais de combate aos incêndios, estarão agora sob a vigilância apertada deste plano. Matos Fernandes chama-lhe uma “intervenção musculada”, um jargão militar que faz sentido aplicar quando os fogos rurais transformaram a nossa floresta num cenário de guerra.

O que ninguém pode prever são as consequências das alterações climáticas na boa execução deste plano. Se Matos Fernandes falhar, junta-se a uma longa lista de outros governantes que nunca conseguiram colocar a nossa floresta ao serviço da nossa economia.

Se, pelo contrário, conseguir com as medidas preconizadas alterar significativamente a nossa paisagem, dotando-a, como merece, de valor económico, turístico e ambiental, então coloca-se na pole position para a sucessão de António Costa.