Após vários anos de impasse, foi, finalmente, anunciado esta semana que o Abanca irá adquirir a totalidade do capital do EuroBic. Esta é uma boa notícia. Embora a novidade tenha sido dada com pouco detalhe, esta aquisição desbloqueará a resolução do problema que inibia o EuroBic de cumprir exigências regulatórias de capital e de passivos equiparáveis a capital.
Com esta operação, o Abanca continua o seu processo de crescimento por aquisição em Portugal. Sendo nós agnósticos em relação à nacionalidade do capital, importa, contudo, dizer que esperamos que enquanto parceiros sociais, representando os trabalhadores, nos seja dado conhecimento do plano do Abanca para o EuroBic. Qual o plano de negócios subjacente a esta aquisição? O que podem os seus trabalhadores esperar? Como pode a sua qualidade e dedicação ser potenciada, em face das provas demonstradas?
Estas são algumas das questões pertinentes que gostaríamos de ver esclarecidas.
Em termos abstratos, investimento, nacional ou estrangeiro, é sempre bem-vindo. Tanto mais se se tratar de investimento estruturante e não de mero investimento financeiro, ou de arbitragem quanto ao valor de ativos adquiridos.
Atente-se, por outro lado, que o mercado português é dos mais concentrados da Europa no que toca aos depósitos e ao crédito, pelo que esperamos que o regulador tenha uma especial atenção a todas as operações com potencial de reduzir a concorrência. Conquanto esta operação, em concreto, seja potencialmente das menos problemáticas, entre os potenciais adquirentes já instalados, é importante que a Autoridade da Concorrência e o Banco de Portugal a acompanhem de perto. Atualmente, importa dar nota, é nossa convicção que o nível de concentração do mercado português está em níveis demasiado altos para que a concorrência e a inovação floresçam.
Isto dito, gostaria igualmente de realçar que os trabalhadores do EuroBic estão de parabéns. Apesar de incerteza acionista, preparam-se para ver o seu Banco apresentar resultados recordistas. Mais importante, apesar do tema reputacional de todos conhecido de que sofria a estrutura acionista, os trabalhadores conseguiram, com inegável êxito, que o Banco continuasse relevante no financiamento das PME, com uma carteira de crédito de elevada qualidade e a ser um importante concorrente, em várias praças, pela poupança dos residentes. E não se julgue que ter conseguido manter a normalidade fosse coisa fácil, pois quase todos os outros, em situações similares, soçobraram. Portanto, parabéns aos trabalhadores.
Naturalmente que a equipa de gestão, liderada pelo Prof. José Azevedo Pereira, merece que lhe seja estendido o elogio público, pois a sua serenidade e liderança permitiram que os trabalhadores servissem os clientes e estes retribuíssem com a sua lealdade.
Este é um caso feliz de convergência de interesses e de atuação. Era importante fazer este reconhecimento aos trabalhadores, aqui. Decerto que o Banco e o novo acionista não poderão ignorar os seus trabalhadores, verdadeiros heróis improváveis num caso que tinha tudo para correr mal.